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sábado, 27 de março de 2010

A Yoganidra

Yoganidra sempre foi um desafio para mim. Primeiro porque eu achava que não precisava relaxar e que era perca de tempo. Foi bom ter passado por isso porque hoje posso compreender as pessoas que também tem dificuldades em relaxar, sem julgamento. A sociedade precisa se aprofundar sobre o ato de relaxar. O que temos na mídia e na literatura ainda é muito pouco divulgado em comparação com o tamanho gigantesco de benefícios que a Yoganidra pode proporcionar.
Hoje é uma das minhas partes favoritas no yoga. Mas do que o prazer em deitar e soltar as tensões é a consciência corporal que se adquire a cada dia, dando ao praticante condição de perceber as tensões antes mesmo de elas acontecerem e o aprofundamento em si mesmo, abrindo as portas da meditação e mudança da compreensão do mundo ao redor.
De tudo o que estudei gostei muito do Tratamento Autógeno do Dr. Schutz que até então ainda não tinha ouvido falar. Enxerguei uma possibilidade de ajudar mais aos meus alunos, já que percebo que muitos deles deitam num relaxamento mais para compensar sua falta de sono noturno do que relaxar conscientemente. Mesmo tendo cuidados com a modulação de voz e orientação para que fiquem acordados, muitas pessoas dormem. Temos em Curitiba gente que vive no mundo dos “workholic”, ou seja, ligados no trabalho 24 horas por dia. Aqui nessa cidade a grande maioria das pessoas são movidas no “ter” e as vezes tenho dificuldade de fazê-las se entregar no mundo novo do “ser”. Percebo que a yoganidra é onde consigo levá-las um pouco mais para perto dessa consciência, desse despertar para si mesmo.
A forma de aproximar os nossos alunos desse despertar é através dos benefícios fisiológicos e muitos nem percebem o quanto interagimos também com os aspectos psicofísicos já que trabalhando um chegamos no outro. É uma forma de desacelerar a sociedade e até mesmo prepará-los para o crescimento pessoal, reforçando a homeostase e equilibrando e unificando o organismo.
Somos hoje, nós professores de yoga, colaboradores na diminuição da ansiedade, das síndromes, na cura e na qualidade de vida, através dessa “obra” maravilhosa que é a yoganidra, graças ao mátrika nyása traduzido por Satyananda até os grandes pesquisadores com Dr. Schutz e Dr. Jacob que aplicaram estudos e relaxamentos profundos, com resultados muito significativos no mundo atual.
Como diz nosso querido Professor Hermógenes, “é um ato de misericórdia abrir a mente da nossa sociedade”. Com o estudo de relaxamento no 3º período do CURSO SUPERIOR DE FORMAÇÃO ESPECÍFICA EM YOGA COM ÊNFASE EM YOGATERAPIA, deu para perceber que a yoganidra é o nosso acesso mais significativo dentro de uma prática de yoga.
Namastê
Pérola de Souza

Purificar é preciso _Shatkarmas e Kriyás_estudo André DeRose

A necessidade de purificação no yoga é ligada ao objetivo de limpar a mente. Uma vez um corpo limpo,a mente fica desbloqueada, vazia e portanto mais apropriada para a prática de meditação. Sim, os shatkarmas (atividades de purificação) são citados nos Yoga Shastras para favorecer o desbloqueio dos canais e conquistar o equilíbrio em todos os corpos. (denso e sutil) do ser humano.
Para Patanjali, criador do principal sistema de yoga, obstruímos os nossos canais energéticos (nadis) através de emoções negativas (kleshas) exatamente como a psicologia e medicina modernas já entendem e aceitam a idéia de psicossomatização. Essas doenças oriundas das emoções negativas são conhecidas como Samskaras (impressões profundas) e Vásanas (impressões diárias ) e que podem ser purificados com os shatkarmas.
Um exemplo disso é que nosso plexo solar, chamado manipura chakra e é o ponto onde muitas das vibrações negativas e positivas pulsam. O famoso “frio na barriga” que temos nessa região por causa de um medo, por exemplo, é a prova disso. Então massageamos essa região com contrações abdominais e a energia se desprende não deixando que acumule e somatize.
Uma vez nosso corpo energético desobstruído, nossas emoções estando equilibradas, a nossa mente fica menos dispersiva (trabalhando a diminuição de vrittis) facilitando a meditação.


ORIGEM DAS KRIYÁS

O hindu é o povo que mais se preocupou com a higiene na história da humanidade. Apesar de ser um povo que anda descalço e come com as mãos, desenvolveu variadas técnicas de limpeza que são muito melhores que a nossa higiene corporal.
Algumas não são mais usadas ou foram substituídas por outras mais modernas. Por exemplo, hoje as pessoas escovam os dentes ao invés de mascar raiz para com ela formar cerdas e limpar os dentes.
Alguns dos exercícios de purificação eram praticados a mais de quatro milênios na Índia, enquanto que na Europa o banho virou hábito a menos de duzentos anos.
O ocidental ainda vê certos hábitos com nojo e com vergonha, como ir ao banheiro, por exemplo, como se fosse um ato repugnante, quando isso deveria ser um ato natural onde a pessoa pode analisar como está seu organismo, pelo número de vezes que vai ao banheiro e até mesmo a cor e consistência das fezes.
Nas Kriyás, o elemento mais utilizado é a água já que 70% do nosso corpo é composto pela mesma. Então, nada melhor para começarmos a limpeza do nosso organismo tomando bastante água! De preferência, água pura já que cai direto na corrente sanguínea.
Kriyá é um termo em sânscrito, feminino que vem da raiz Kr (ação) que significa atividade. As kriyás mais comuns forma catalogadas num grupo conhecido como shatkarmas (seis ações) que são: Dhauti, Basti, Neti, Nauli, Trataka e kapalabhati.
Existem outros que ficam fora dos shatkarmas mas que também são ótimos purificadores: yogánna, vajroli, sahajoli, mauna, upavasta, upasana, swedana, virchana, abhyánga, bhástrika, yogananda padadhirásana, Nadi shodhana pranayama, Nadi suddhi pranayama e amaroli.
Como podemos ver nos shastras para chegarmos no objetivo do yoga (samadhi) é necessário purificar-se (shodhana). Essa purificação é dos elementos: terra, água, fogo, ar e o éter e é conhecido como bhuta shuddi.
Existem técnicas para cada parte do corpo, trazendo as impurezas para fora, limpando completamente o organismo permitindo a livre circulação do prana.


SHATKARMAS

"purificação é obtida através de shat kriyas
fortalecimento é obtido através de asanas
estabilidade é obtida através de mudras
serenidade é obtida através de pratyahara
bondade e leveza são obtidas através de pranayama
percepção clara é obtida através de dhyanam
isolamento é obtido através de samadhi"

Gheranda Samhita 1:10-11

a) Dhauti

• Limpeza do estômago
• O Jala Dhauti limpa o esôfago e o estômago ao remover o excesso de mucosidade e de comida das paredes do estômago. Prepare a água do dhauti na mesma proporção da água do neti (1/2 colher de chá de sal para 1 copo de água morna, quase fria).
• Agnisara Dhauti (Agnisara Kriya)
• Jala Dhauti (Vamana Dhauti)
• Hrid Dhauti (coração) - (Vastra Dhauti - tecido)
• Danda Dhauti (vareta)
• Vatasara Dhauti (ar)
• Shanka Prakshalana (limpeza da concha dos intestinos ou limpeza completa do sistema gastrointestinal)

b) Basti

• VASTI (ou Basti) – limpeza do cólon
• O basti limpa o cólon (parte média do intestino grosso, que vai do ceco ao reto, composto pelos cólons ascendente, transverso, descendente e sigmóide) ao criar um vácuo que suga a água para dentro. Sentado sobre um tubo de água crie o vácuo ao manipular os músculos abdominais (nauli). Tradicionalmente um pequeno tubo de bambu era usado para manter o esfíncter anal aberto, uma alternativa moderna é usar um tubo de plástico com diâmetro de 1 cm. Basti não é o mesmo que enema, a prática do basti fortalece os músculos abdominais e pode ser feita regularmente
• Sthula Basti - sthula = terra


c) Neti

• NETI – limpeza nasal
• O neti limpa as narinas e as vias aéreas. Praticado diariamente este exercício de purificação ajuda a neutralizar os efeitos da poluição, poeira e pólen. É especialmente benéfico às pessoas com asma, alergias, rinite, sinusite e outros problemas respiratórios.


d) Nauli

• NAULI – massagem dos órgãos internos
• O nauli massageia e revigora todos os órgãos internos e aumenta a concentração de prána na região do plexo solar. Tônico poderoso para qualquer desordem ou fraqueza do sistema gastrointestinal. Leva tempo para ser dominado por utilizar vários músculos abdominais.


e) Trataka

• TRATAKA – limpeza e manutenção dos olhos
• Coloque uma vela a uma distância de 1 braço, na altura dos olhos, olhe para a vela sem piscar por 1 a 3 min. De seus olhos brotarão lágrimas, limpando os condutores lacrimais. Após o exercício feche os olhos e imagine a chama da vela em um ponto entre as sobrancelhas. Trataka melhora e concentração e aumenta o campo de visão e pode ser usado como um exercício preparatório de meditação.
• (O que se sabe com segurança é que as lágrimas cumprem a importante função fisiológica de proteger os olhos. Nossas lágrimas atuam como lubrificantes, evitando que o globo ocular se resseque, como anti-séptico - já que o sal que contêm é um ótimo desinfetante - e também ajudam a retirar qualquer tipo de impureza que possa vir a se instalar em nossos olhos. Este funcional sistema lacrimal é composto pelas glândulas lacrimais (que produzem o fluido da lágrima) e condutores excretores lacrimais (que segregam as lágrimas cada vez que fechamos os olhos). Extraído do site: http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI119468-EI1426,00.html


f) Kapalabhati

• KAPALABHATI – Limpeza pela respiração
• Este exercício respiratório purifica as passagens nasais e os pulmões, ajudando o corpo a eliminar grandes quantidades de dióxido de carbono e outras impurezas. A absorção aumentada de oxigênio enriquece o sangue e renova as células corporais, enquanto o movimento do diafragma massageia o estômago, fígado e pâncreas.



OUTRA PURIFICAÇÕES

• Jejum
• Alimentação
• Meditação
• Respiração
• Mantra
• Atitude positiva
• Manas kriya
• Jiva dhauti
• Karna dhauti



REFERÊNCIAS

DEROSE, A. Yoga é a maior limpeza! Kriyás. 2ª edição. São Paulo, 1967.
VIDEO 10-A da Formação Profissional Yoganataraja – Professora Ana Paula Borella.

Os Dhamas shastras e o Código de Manu_comentários da Pérola

OS DHARMA-SHASTRAS

Vincular a ética com a espiritualidade é o principal elemento na literatura ético-jurídica do hinduísmo. Penso que foi o que o Cristianismo sempre fez com a política ao longo da história: Unir os códigos morais religiosos e transformá-los em sociais. Sim, é preciso uma ordem para o ser ter garantias de que o universo vai estar ou voltar à harmonia. Nada melhor que os Dharma-sutras para levar o humano de encontro com seus grandes e verdadeiros valores.
Valores estes que são ligados ao bem-estar material, principalmente numa sociedade onde o ser humano parece achar que a felicidade está mais no “ter” do que no “ser”. Outro valor importante é com relação ao prazer, mas que este prazer seja ligado ao ser e a moral, ou seja, nossa liberdade de prazer termina onde começa a do outro. Talvez até um prazer ligado ao nosso Dharma no sentido de tarefa, ou seja, aquilo que viemos fazer aqui para que o mundo seja melhor e assim, eis Moksa! Essa é a Liberdade real onde podemos fazer tudo o que temos que fazer, mas com amor, prazer, desprendimento, moral e com desejo de crescimento para o mundo.
Patanjali exemplifica com o maha-vrata ressaltando a não-violência e isto parece levar justamente ao cuidado que o ser humano deve ter para não invadir a liberdade do outro. As outras virtudes são uma conseqüência da não-violência e fazem parte dos fatores pregados pelos Dharma-shastras.
As obras jurídicas são numerosas, com ensinamentos muito antigos, que segundo Feuerstein datam no período entre 300 a.C e 200 d.C. A mais importante é o Manava-Dharma-Shastra conhecido como Manu-Smriti. Supõe-se que o autor foi Manu Vaivasvata, também conhecido como o primeiro homem da humanidade. Manu também é conhecido como “nosso pai” pelo Rig-Veda (1.80.1-6). Já nos Puranas diz que Manu foi o único sobrevivente dde uma grande enchente ou dilúvio e essa história foi contada no Shata-Patha-Brahmana (1.8.1-6) que tem mais de quatro mil anos. Não encontramos essa história nos Rig-Vedas mas se fala em um navio de ouro que encalhou nos cimos do Himalaia.
Se Manu existiu fez parte da primeira civilização védica (quinto milênio antes de cristo, ou seja, 7000 anos atrás!) Já o smriti, ou seja, a literatura de manu, já é mais recente, mas independente disso mostrou o quanto foi grande a influência do Hinduísmo na época do nascimento de cristo.