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domingo, 28 de fevereiro de 2010

O que é bioenergética? Resenha do livro: BIOENERGÉTICA

BIOENERGÉTICA
Alexander Lowen

Existem duas formas de ser ler a linguagem corporal: uma através dos sinais e expressões do corpo e outra através das expressões verbais, e outra através da nossa linguagem cotidiana demonstrando que já deciframos algumas delas quando dizemos, por exemplo: “cabeça-dura”, “carrega o mundo nas costas”, ou “mão fechada” para traduzir o comportamento humano como: “inflexível”, “excessivamente responsável”, ou “não solta o dinheiro”, respectivamente.
As máquinas são complementos do corpo, como a pá é uma mão aumentada, o computador é o prolongamento do cérebro e assim por diante, explicando a frase de Sandor Rado, que a base de todas as linguagens é a linguagem do corpo. Apesar da Bioenergética não ver o corpo como uma máquina.
A atitude de uma pessoa pode ser determinada a partir da expressão do seu corpo, por isso é importante compreender sua linguagem. O formado do tórax, por exemplo, mostra que quando está saliente eu uma forma de desafio, como se a pessoa dissesse “fique longe de mim“. O canal de comunicação primário para o corpo é através da boca e da garganta e o primeiro canal do bebê que chega no seio da mãe e temos consciência que o beijo é uma expressão de amor. Uma forma clara de que mostra o bloqueio da passagem de qualquer sentimento é a garganta fechada e um pescoço contraído. Os braços e mãos são a continuação de canal de comunicação do coração. As mãos são carregadas de energia e tem poder de cura no seu toque.
Quanto às tensões nos ombros, temos como tradução a forma de se lançar à vida. Já a tensão nas mãos resulta da repressão de impulsos para pegar ou agarrar, rasgar ou ferir, explicação para artrite reumática. Um terceiro canal do coração com o mundo Oe o que desce da cintura e pelve pra as genitais. O orgasmo satisfatório só é possível quando a pessoa realmente se entrega. Por isso, o texto diz que sexo sem sentimento é como fazer uma refeição sem apetite.
As tensões nos músculos que circundam a pelve e as coxas, bloqueiam o livre fluxo de excitação e sentimentos. Por isso é ideal que se faça relaxamento nessa região para que a pessoa possa se sentir “ligada”, deixando claro que cabeça, coração e órgão genitais, ou pensamento, sentimentos e sexo não são mais funções isoladas.
Os seios das mulheres são ligados diretamente ao coração, mostrando que o ato de amamentar é umas das mais claras expressões de amor maternal. É provável que a mãe esteja ressentida e desgostosa com a responsabilidade que a criança representa quanto tem problemas com a amamentação.
O autor dá como exemplo as pessoas que chegam à sua terapia com queixas do tipo depressão, ansiedade, sentimentos de inadequação, de fracasso, etc, que cada uma dessas queixas demonstra falta de prazer e de satisfação no viver. Segundo ele, o objetivo de cada terapia é ajudar a pessoa a aumentar sua capacidade de dar e receber amor, e desenvolver o coração e não só sua mente.
Outras partes do corpo podem ser entendidas da seguinte forma: a face inclui a aparência externa de objeto e situações e é empregada para fazer referência à imagem de uma pessoa que se relaciona ao conceito de face do ego, por isso, a maior parte das pessoas se esforça para manter as aparências. A pessoa de ego forte “encara” as situações, enquanto a mais fraca desvia o rosto. Então podemos avaliar o ego da pessoa através da sua face. Pode-se observar a tendência de esconder o rosto com cabelos longos que pode parecer uma falta de vontade de encarar o mundo ou até mesmo rejeição de nossa cultura que valoriza a imagem. Uma forma de manifestar o anti-ego. Podemos analisar as sobrancelhas, as erguidas indicam refinamento ou intelectualidade e as baixar pertencem a indivíduos broncos. Olhos brilhantes são sinal e símbolo de exuberância. Podemos saber as respostas dos outros através do olhar. A boca também tem suas expressões como “linguarudo” ou “fala-manso”, ”queixo caído” e a terapia, muitas vezes, faz com que o paciente deixe seu queixo cair antes que consiga entregar-se ao choro.
Já a voz humana é o meio de maior expressividade ao alcance do homem e perder a voz pode significar a perda da própria posição. Pessoas que assumem suas responsabilidades “leva-as ao ombro” e a participação do indivíduo no acontecimento é expressada através do “deu uma mãozinha”. A expressão “você me tocou”, reflete um contato de sensibilidades entre pessoas. Bebês aprendem colocando objetos na boca e crianças aprendem tocando, trazendo a questão da terapia: “Será que alguém consegue realmente conhecer oura pessoas sem tocá-la?” Está aí a importância do terapeuta tocar o paciente, pois consegue sentir muitas coisas a respeito dessa pessoa. Assim, o terapeuta tem condição de transmitir ao paciente a noção de que o sente e o aceita como um ser corporal de forma que demonstra a natureza terna e amorosa de seus cuidados, como o colo da mãe. A dificuldade de aceitação do toque tem haver com os tabus da infância, relacionados a privação de carinho e à sexualidade. Tocando o paciente, principalmente do sexo oposto, de uma forma que assuma caráter sexual, pode-se confirmar as ansiedades do paciente com respeito ao contato físico. Mas qualquer envolvimento sexual do terapeuta é uma traição da confiança depositada no vínculo terapêutico. O toque terapêutico deve ser caloroso, amistoso, confiável e isento de qualquer interesse pessoal para que se possa inspirar confiança. Por isso, primeiramente o terapeuta tem que se conhecer, estar em contato consigo mesmo antes de tocar seu paciente.
Já o paciente tem imensa vontade de tocar o terapeuta para quebrar o tabu contra o tocar que o faz sentir-se isolado. Através desse toque pode-se atingir um nível mais profundo de um problema que as palavras somente não alcançariam. São variadas as explorações onde podem ser decifrados vários tabus, entre eles a aceitação.
Outro campo de interação reside na relação com o chão. Existem termos metafóricos que quando empregado para a descrição de condutas, podem ser aplicas à personalidade com relação a estar em pé e o modo como o indivíduo fica perante a vida, revela-se em seu corpo. Pode revelar sensação de insegurança na personalidade, independente de ser consciente ou não. O estudo dessas posturas como o corpo e pés tem aspectos culturas (como na china onde os pés das meninas eram amarrados para que permanecessem pequenos e inúteis e davam a posição social das mulheres) se manifestam nas expressões corporais e é chamado cinética e na bioenergética é estudado o efeito da cultura sobre o próprio corpo. Pode-se fazer diagnósticos através dos pés e pode-se fazer a pessoa tomar consciência deles e tornar-se capaz de equilibrar-se adequadamente.
Outro fenômeno bioenergético, cultural e assunto para uma investigação sociológica é a falta do senso de ter raízes que pode ser um distúrbio no funcionamento do corpo, localizado nas pernas, pois estas são nossas raízes móveis e exercícios específicos podem fazer a pessoa a vivenciar o “enraizamento”. A mãe é o primeiro chão do bebê e ele conquista suas raízes através do corpo da mãe. Terra e chão e identificam-se simbolicamente com a mãe que pode ser a causa de muitos pacientes que não tiveram um senso adequado de terem raízes, base, por falta de um contato agradável com o corpo de suas mães.
Comunicação não-verbal é a linguagem do corpo. O tom da voz ou o olhar de uma pessoa têm um impacto maior do que as palavras. Como o olhar de uma mãe pode deixar clara sua insatisfação para um filho. Crianças percebem mais a linguagem corporal que os adultos mas perdem com os anos pois passam a dar mais atenção às palavras. Pode-se tentar enganar por palavras, mas nunca pela linguagem corporal, pois o corpo demonstra a impostura pelo estado de tensão e como ninguém controla o corpo totalmente, os detectores de mentira são eficientes quando usados para distinguir a verdade da mentira. Quando a pessoa mente, a pressão sanguínea altera e a taxa de batimentos cardíacos é alterada. Pode-se analisar a própria voz, pois seu tom e ressonância refletem todos os sentimentos que a pessoa abriga.
Há como detectar traços da personalidade através do andar e cada aspecto corporal revela quem somos. Podemos até mesmo confiar ou não no outro a partir da expressão corporal. As crianças confiam mais nesse tipo de informação que os adultos. Se não confiarmos nos nossos sentidos, estamos aniquilando nossa capacidade de sentir e de fazer sentido e quando nos identificamos com a expressão corporal de uma pessoa, podemos sentir seu significado. Ou seja, quando se assume a atitude corporal de uma pessoa, pode-se captar os sentimentos daquela expressão. Quando a pessoa tem expressões já crônicas, torna-se sem consciência, pois as tensões perdem sua carga energética. Mas a linguagem do corpo não mente e outro corpo pode compreendê-la. Como exemplo temos traços masoquistas que são expressados quando alguém está de nádegas contraídas e de músculos tensos nessa região e o indivíduo adota compensatoriamente uma atitude de desafio na metade superior do corpo.
Como todos os padrões tensionais traduzem os traumas vividos no crescimentos, rejeições, privações, seduções, frustrações, etc, estão em todos os seres humanos, os próprios terapeutas de bioenergética submetem-se a um programa de treinamento para colocá-los em contato com seus corpos.
A expressão “segunda natureza” surge na aplicação da descrição de atitudes físicas e psicológicas e passam a fazer parte da vida da pessoa, por isso, é crucial que possamos reconhecer a existência da “primeira natureza”, a causa, a distinção entre a primeira e segunda natureza. Dessa forma, pode-se ter uma vida mais saudável e uma cultura sadia apoiando-se na primeira natureza.

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