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domingo, 28 de fevereiro de 2010

resenha: O épico RAMAYANA






ÉPICO RAMAYANA – ITIHÂSA HINDU








Ramayana descreve a epopéia de RAMA, constituindo a conhecida filosofia épica que revela muito sobre a estrutura psicológica de um povo, sendo que sua influência é exercida até os dias atuais, como modelo de comportamento social. Composto por Valmiki, é uma obra que pode ser comparada com a mitologia grega, mais precisamente, a Ilíada de Homero, semelhante em muitos aspectos, como por exemplo, o rapto de Helena por Páris que causa a guerra entre gregos e troianos. Lembrando que o épico foi escrito anteriormente à obra grega.
Segundo o livro Rama, Os grande Iniciados, de Édouard Schuré, o nome de poema significa Façanhas de Rama (Rama+aiana) e foi escrito originalmente em sânscrito. Rama, o herói de Ramayana, é uma forma humana do deus Vishnu e serve como modelo aos homens hindus. É elegante, bravo e marido devotado. Sita, sua mulher, belíssima, representa o ideal indiano de devoção ao dever e ao marido.

O AUTOR E A ÉPOCA
Valmiki, o autor, é uma figura legendária, brâhmane de nascença, mas que era brigão, salteador, sempre envolvido em confusões e que atacou sete RISHIS, que estavam em profunda contemplação, afim de perturbá-los. Mas os RISHIS, não deixaram que a negatividade os atingissem e para “tocar” o coração de Valmiki e direcioná-lo na direção correta, ensinam o poderoso mantra de RAMA. Isto toca o coração de Valmiki que entra em meditação por mil anos. Quando os RISHIS voltam, encontram Valmiki coberto por formigas bravas e brancas e então surgiu seu nome (formigas brancas segundo Édouard Schuré).
Segundo Schuré a maioria dos eruditos, inclinam-se a favor da real existência de Valmiki dizendo que a obra é tão perfeita que só um autor único poderia conseguir tal unidade e tal segurança.
O ARGUMENTO
Independente do questionamento sobre a existência do autor, o Ramayana representa o drama eterno da vida, um permanente combate feito por um herói dotado de virtudes como a beleza, força e encarnação dos mais puros e nobres sentimentos (Vishnu), contra as potências do mal.
O Ramayana, como glorioso legado de uma das literaturas mais antigas do mundo, é um documento para que o homem comum possa ver refletir-se em sim os pensamentos que despertam na alma humana a contemplação e a nobre satisfação do cumprimento do dever.O poema representa também a libertação, como processo de desprendimento gradual, de sutilização.
A história acontece na cidade de Ayodhia onde reinava Dasaratha, um rei da raça solar. Essa cidade não tem uma exata localização até os dias de hoje. O Rei Dasaratha tinha três esposas. Aproximando-se da velhice decide realizar o Ashta-medha (ritual do sacrifício do cavalo) para ter filhos. Suas esposas deram à luz a quatro filhos. Rama, um deles é o avatar de vishnu (sétima encarnação da divindade) para combater o mal – RAVANA – o demônio que representa o símbolo da natureza inferior da alma, ou a mente cheia de ilusão e orgulho que precisamos dominar.
No primeiro capítulo, o Ramayana descreve a vida dos irmãos na floresta de Ayodhia, onde morava VISVAMITRA, um sábio. Era um lugar atacado constantemente por seres demoníacos: os RAKSHASAS, que simbolizam as hostes à serviço do mal. VISVAMITRA pede ao Rei que coloque Rama sob sua orientação. Rama vai juntamente com Laksham, seu fiel irmão à casa do guru e Rama é obrigado a matar TARAKA, o ser demoníaco que chefiava os que tentavam atrapalhar o trabalho do seu guru.VISVAMITRA ensina aos irmãos a manejaram as armas celestiais (siddhis).
Certo dia o guru VISVAMITRA leva os irmãos à corte do rei de JANAKA, no país de VIDEHA onde RAMA conhece SITA, cujo nome significa SULCO (que nasceu da terra), e era a própria LAKSMI em forma humana, esposa de Vishnu. Para ter a mão de SITA ,RAMA precisou passar pela prova do Arco de SHIVA. Além dele, seus irmãos também casaram com as irmãs de SITA. A felicidade não estava assegurada. KAIKEYI, a segunda esposa de DASHARATHA, sonha e ver seu filho BARATHA como rei do trono e consegue fazer com que o rei expulse do reino por quatorze anos, seu filho RAMA.
RAMA obedece e com sua esposa e seu irmão LAKSHAMAN deixam o reino e vão morar no coração da floresta que simbolizam os anos de aprovação. É justamente o que descreve o terceiro capítulo, a sua vida de eremita. Depois de seis dias de viagem, chegam ao monte CHITRAKUTA onde morava o autor VALMIKI e esse monte até hoje é adorado pelos milhares de pessoas. Já o rei DASHARATHA não suportou a dor e morreu.
No quarto capítulo, o príncipe BHARATA, ao voltar de uma viagem e ao ficar sabendo da morte do pai, recusa o reino. Procura RAMA na floresta e implora para que este volte e assuma o trono, mas RAMA recusa com sabedoria. RAMA dá as sandálias ao irmão como símbolo de amor. BHARATA declarou que se RAMA não retornar depois de quatorze anos, terminará seus dias na pira.
No quinto capítulo é descrito a moradia de RAMA, SITA E LAKSHMAN. O livro número seis uma série de acontecimentos se inicia e uma princesa da hoste dos RAKSHASAS se apaixona por RAMA. Mas este é fiel é RAMA e não corresponde. A princesa inconformada solicita ao seu poderoso irmão RAVANA que ajuda. Este envia um demônio em forma de gazela para tirar RAMA de casa. RAMA pede para que LAKSHMAN cuide de SITA, enquanto sai à caça da gazela. O amor de SITA faz com que ela convença LAKSHMAN a ir atrás de RAMA, julgando que este estava em perigo, sob influência de RAVANA. LAKSHMAN abandona SITA, contrariado e RAVANA aproveita e rapta a esposa de RAMA.
Com muita dor e andando pelas montanhas Nilgiri, Rama vai até os VANARS. É o que nos conta o capítulo sete. VANARS são qualidades mentais que RAMA encontra para buscar por SITA. O rei dos macacos (que segundo alguns autores eram os povos de raça negróide da Índia e que foram mesclando com os arianos) se aliou na luta com RAMA contra RAVANA. O general do seu exército HANUMAN de origem divina e dotado de poderes sobrenaturais, pulou da Índia ao Ceilão (Lanka), onde morava RAVANA, em um único salto.
No oitavo capítulo, Hanuman descobre que SITA era prisioneira de RAVANA e estava guardada por entidades terríveis. SITA reconhece o anel e dá a HANUMAN para que este leve a RAMA e para comprovar que está viva. HANUMAN cruza o oceano e conta toda a história para RAMA a quem entregou a pedra preciosa de SITA.
RAMA vai até RAVANA, entra com facilidade em sua ilha e chega até a prisão de SITA. HANUMAN queima grande parte da cidade. RAVANA reúne-se com sua família e decidem iniciar uma grande guerra.
Então inicia-se o choque entre o BEM e o MAL, e em meio a temporais e trovões em fúria, inicia-se a guerra, no capítulo dez onde podemos ver a força da poesia:
“As trevas chegaram mas, os combatentes continuavam lutando sem cessar, com um ódio ainda maior na escuridão da noite!”
Os VANARS acabaram como uma chama o exército de RAVANA e este derrotado, fica só. Na terceira batalha, dá-se o encontro de RAMA e RAVANA. RAMA usa o dardo do BRAHMA, e com ele atinge o coração de RAVANA, matando-o rapidamente. Ainda nesse capítulo, RAMA demonstra sua bondade permitindo o ritual de sepultamento na pira do seu inimigo.
No último capítulo, RAMA volta ao lar com SITA, mas uma grande suspeita paira nesse amor, onde SITA precisa provar que não foi possuída por RAMA, entrando no sacrifício do fogo, na praça principal. Ele dever sair viva e sem queimaduras da fogueira se estiver inocente. E realmente ela saiu sem nenhum fio de cabelo mexido ou queimado, provando a sua inocência. RAMA volta feliz para seu trono, onde reinou por muitos anos.
No livro de Édouard Schuré, podemos encontrar uma parte instigante do poema que diz: “Eis aqui tua esposa, RAMA. Recebe-a pura, sem mancha e defeito, eu te asseguro. O fogo vê tudo que se mostra e tudo o que se oculta.” (pág 73).
Existe um outro final, triste onde RAMA manda a esposa embora por achar que foi maculada por RAVANA. A leva para Valmiki (o autor), na floresta. SITA tem com Valmiki dois filhos LAVA E KUSA que se tornam mestres exímios e aprender de cor todos os versos do RAMAYANA. Um dia RAMA implora o retorno de SITA a Valmiki que cede ao pedido de RAMA. Mas SITA, inconformada com a desconfiança do marido, volta para terra que se abre num sulco.

OBSERVAÇÕES DA PÉROLA
“Aqueles que prestarem atenção desta admirável história de trabalhos infatigáveis, ficará livre dos pecados, terá filhos, se deseja filhos e riquezas, se tem sede de riquezas. Os que, reunidos, ouvem o poema que o próprio Valmiki compôs, granjearão do céu todas as graças, objeto de seus desejos” (In O Ramaiana – Valmiki).
Ao meu ver é uma obra que instiga a prosperidade, a fidelidade de irmãos (Lakshman e baratha), a fidelidade da amizade de Hanuman, as qualidades sobrenaturais (siddhis) que só são dignas de quem realmente as merece e a fidelidade no amor (Rama e Sita).
Interessante também a vinda de um Avatar sempre no momento onde o é necessário o entrave das lutas entre o bem e o mal, trazendo a sétima reencarnação de Vishnu em forma de Rama, e como alma gêmea, Laksmi, em forma de SITA. É sem dúvida, um romântico e inspirador poema que nos leva a avaliar as nossas lutas, conflitos internos, relação com a vingança e com a desconfiança.
O professor de Yoga Goura Nataraj Das, nos contou uma vez em prática, que HANUMAN fez um caminho por dentro do mar, desde a Índia até o Lanka, para que RAMA pudesse passar. Muito questionado por historiadores o fato de ser impossível fazer um caminho no mar, pode vir a ser um fato. Hare Krishnas nos contam que existem fotos de satélite que mostram caminhos de pedras entre os dois países. Essas fotos estão publicadas como estão abaixo:


Arqueólogos descobriram, graças a fotos de satélite da NASA, resquícios de uma ponte de 30km de extensão, feita pelo homem, unindo a Índia ao Sri Lanka. Até aí nada de mais, a não ser pelo fato de que a ponte foi construída há 1.750.000 a.C. (quase dois milhões de anos!), ainda na época do O primeiro animal que os cientistas classificam como hominídeo. Foram os primeiros a usar ferramentas de pedra, mas são anteriores ao homo erectus. Vocês acreditam mesmo que foi esse bicho aí do lado que projetou essa ponte? Os caras, antes mesmo de andar eretos, já eram engenheiros habilidosos?');" onmouseout=nd();Homo habilis! Outro detalhe impressionante é que a construção dessa ponte foi contada nos Veda provém da raiz sânscrita vid, que significa saber, conhecimento. Esses ensinamentos foram passados de forma oral por milhares de anos, porém, com o advento da era de Kali, quando o homem perdeu o poder de concentração, inteligência e memória, se fez necessário codificar os Vedas em forma escrita. No começo era um só Veda, mas o sábio Vyasadeva o dividiu em várias partes, pra facilitar o aprendizado. Os quatro tipos principais de Vedas são o Rigveda, o Yajurveda, Samveda e o Atharvaveda. Os Vedas não são considerados histórias inventadas (existe outra palavra para isso em sânscrito), mas sim relatos de coisas que de fato aconteceram.');" onmouseout=nd();Vedas, mais especificamente no Épico hindu Ramayana (escrito há pelo menos 5.000 anos!), onde lemos que ela foi construída sob a supervisão de ninguém menos que o deus Rama (avatara, significa que desce. É a encarnação de Krishna (um aspecto da Divindade Brahman, que é Única) que veio para realizar diferentes tarefas no mundo material e restabelecer o reto agir, o verdadeiro Dharma, que se corrompe através dos séculos.');" onmouseout=nd();Avatar hindu, equivalente ao nosso Cristo), na Treta Yuga (Uma Era que vai de 2.163.000 a.C. a 1.296.000 a.C., o que bate com a idade da ponte!).Mais fotos podem ser vistas aqui. Leiam o trecho do Ramayana aqui (em inglês), e notem que o exército de Rama era composto por "macacos", que eram mais inteligentes e hábeis que os macacos que conhecemos atualmente... mais parecidos com o que seria o Homo habilis.No mínimo intrigante...Referência: As eras (Yugas), segundo os Hindus;Homo habilis;Fatos estranhos do passado.






BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO, Nunes Murilo. O Pensamento do Extremo Oriente. O Olho do Furacão. São Paulo, Editora Pensamento.
SCHURÉ, Édouard. Os Grandes Iniciados. Rama. São Paulo, Editora Martin Claret.
VALMIKI. In Ramayana. Rio de Janeiro, Editora Matos Peixoto, 1964.
http://rodrigoenok.blogspot.com/2009/02/ponte-construida-pelo-homem-em-1750000.html - sobre Ponte de Ramayana – fotos de satélite.

O que é bioenergética? Resenha do livro: BIOENERGÉTICA

BIOENERGÉTICA
Alexander Lowen

Existem duas formas de ser ler a linguagem corporal: uma através dos sinais e expressões do corpo e outra através das expressões verbais, e outra através da nossa linguagem cotidiana demonstrando que já deciframos algumas delas quando dizemos, por exemplo: “cabeça-dura”, “carrega o mundo nas costas”, ou “mão fechada” para traduzir o comportamento humano como: “inflexível”, “excessivamente responsável”, ou “não solta o dinheiro”, respectivamente.
As máquinas são complementos do corpo, como a pá é uma mão aumentada, o computador é o prolongamento do cérebro e assim por diante, explicando a frase de Sandor Rado, que a base de todas as linguagens é a linguagem do corpo. Apesar da Bioenergética não ver o corpo como uma máquina.
A atitude de uma pessoa pode ser determinada a partir da expressão do seu corpo, por isso é importante compreender sua linguagem. O formado do tórax, por exemplo, mostra que quando está saliente eu uma forma de desafio, como se a pessoa dissesse “fique longe de mim“. O canal de comunicação primário para o corpo é através da boca e da garganta e o primeiro canal do bebê que chega no seio da mãe e temos consciência que o beijo é uma expressão de amor. Uma forma clara de que mostra o bloqueio da passagem de qualquer sentimento é a garganta fechada e um pescoço contraído. Os braços e mãos são a continuação de canal de comunicação do coração. As mãos são carregadas de energia e tem poder de cura no seu toque.
Quanto às tensões nos ombros, temos como tradução a forma de se lançar à vida. Já a tensão nas mãos resulta da repressão de impulsos para pegar ou agarrar, rasgar ou ferir, explicação para artrite reumática. Um terceiro canal do coração com o mundo Oe o que desce da cintura e pelve pra as genitais. O orgasmo satisfatório só é possível quando a pessoa realmente se entrega. Por isso, o texto diz que sexo sem sentimento é como fazer uma refeição sem apetite.
As tensões nos músculos que circundam a pelve e as coxas, bloqueiam o livre fluxo de excitação e sentimentos. Por isso é ideal que se faça relaxamento nessa região para que a pessoa possa se sentir “ligada”, deixando claro que cabeça, coração e órgão genitais, ou pensamento, sentimentos e sexo não são mais funções isoladas.
Os seios das mulheres são ligados diretamente ao coração, mostrando que o ato de amamentar é umas das mais claras expressões de amor maternal. É provável que a mãe esteja ressentida e desgostosa com a responsabilidade que a criança representa quanto tem problemas com a amamentação.
O autor dá como exemplo as pessoas que chegam à sua terapia com queixas do tipo depressão, ansiedade, sentimentos de inadequação, de fracasso, etc, que cada uma dessas queixas demonstra falta de prazer e de satisfação no viver. Segundo ele, o objetivo de cada terapia é ajudar a pessoa a aumentar sua capacidade de dar e receber amor, e desenvolver o coração e não só sua mente.
Outras partes do corpo podem ser entendidas da seguinte forma: a face inclui a aparência externa de objeto e situações e é empregada para fazer referência à imagem de uma pessoa que se relaciona ao conceito de face do ego, por isso, a maior parte das pessoas se esforça para manter as aparências. A pessoa de ego forte “encara” as situações, enquanto a mais fraca desvia o rosto. Então podemos avaliar o ego da pessoa através da sua face. Pode-se observar a tendência de esconder o rosto com cabelos longos que pode parecer uma falta de vontade de encarar o mundo ou até mesmo rejeição de nossa cultura que valoriza a imagem. Uma forma de manifestar o anti-ego. Podemos analisar as sobrancelhas, as erguidas indicam refinamento ou intelectualidade e as baixar pertencem a indivíduos broncos. Olhos brilhantes são sinal e símbolo de exuberância. Podemos saber as respostas dos outros através do olhar. A boca também tem suas expressões como “linguarudo” ou “fala-manso”, ”queixo caído” e a terapia, muitas vezes, faz com que o paciente deixe seu queixo cair antes que consiga entregar-se ao choro.
Já a voz humana é o meio de maior expressividade ao alcance do homem e perder a voz pode significar a perda da própria posição. Pessoas que assumem suas responsabilidades “leva-as ao ombro” e a participação do indivíduo no acontecimento é expressada através do “deu uma mãozinha”. A expressão “você me tocou”, reflete um contato de sensibilidades entre pessoas. Bebês aprendem colocando objetos na boca e crianças aprendem tocando, trazendo a questão da terapia: “Será que alguém consegue realmente conhecer oura pessoas sem tocá-la?” Está aí a importância do terapeuta tocar o paciente, pois consegue sentir muitas coisas a respeito dessa pessoa. Assim, o terapeuta tem condição de transmitir ao paciente a noção de que o sente e o aceita como um ser corporal de forma que demonstra a natureza terna e amorosa de seus cuidados, como o colo da mãe. A dificuldade de aceitação do toque tem haver com os tabus da infância, relacionados a privação de carinho e à sexualidade. Tocando o paciente, principalmente do sexo oposto, de uma forma que assuma caráter sexual, pode-se confirmar as ansiedades do paciente com respeito ao contato físico. Mas qualquer envolvimento sexual do terapeuta é uma traição da confiança depositada no vínculo terapêutico. O toque terapêutico deve ser caloroso, amistoso, confiável e isento de qualquer interesse pessoal para que se possa inspirar confiança. Por isso, primeiramente o terapeuta tem que se conhecer, estar em contato consigo mesmo antes de tocar seu paciente.
Já o paciente tem imensa vontade de tocar o terapeuta para quebrar o tabu contra o tocar que o faz sentir-se isolado. Através desse toque pode-se atingir um nível mais profundo de um problema que as palavras somente não alcançariam. São variadas as explorações onde podem ser decifrados vários tabus, entre eles a aceitação.
Outro campo de interação reside na relação com o chão. Existem termos metafóricos que quando empregado para a descrição de condutas, podem ser aplicas à personalidade com relação a estar em pé e o modo como o indivíduo fica perante a vida, revela-se em seu corpo. Pode revelar sensação de insegurança na personalidade, independente de ser consciente ou não. O estudo dessas posturas como o corpo e pés tem aspectos culturas (como na china onde os pés das meninas eram amarrados para que permanecessem pequenos e inúteis e davam a posição social das mulheres) se manifestam nas expressões corporais e é chamado cinética e na bioenergética é estudado o efeito da cultura sobre o próprio corpo. Pode-se fazer diagnósticos através dos pés e pode-se fazer a pessoa tomar consciência deles e tornar-se capaz de equilibrar-se adequadamente.
Outro fenômeno bioenergético, cultural e assunto para uma investigação sociológica é a falta do senso de ter raízes que pode ser um distúrbio no funcionamento do corpo, localizado nas pernas, pois estas são nossas raízes móveis e exercícios específicos podem fazer a pessoa a vivenciar o “enraizamento”. A mãe é o primeiro chão do bebê e ele conquista suas raízes através do corpo da mãe. Terra e chão e identificam-se simbolicamente com a mãe que pode ser a causa de muitos pacientes que não tiveram um senso adequado de terem raízes, base, por falta de um contato agradável com o corpo de suas mães.
Comunicação não-verbal é a linguagem do corpo. O tom da voz ou o olhar de uma pessoa têm um impacto maior do que as palavras. Como o olhar de uma mãe pode deixar clara sua insatisfação para um filho. Crianças percebem mais a linguagem corporal que os adultos mas perdem com os anos pois passam a dar mais atenção às palavras. Pode-se tentar enganar por palavras, mas nunca pela linguagem corporal, pois o corpo demonstra a impostura pelo estado de tensão e como ninguém controla o corpo totalmente, os detectores de mentira são eficientes quando usados para distinguir a verdade da mentira. Quando a pessoa mente, a pressão sanguínea altera e a taxa de batimentos cardíacos é alterada. Pode-se analisar a própria voz, pois seu tom e ressonância refletem todos os sentimentos que a pessoa abriga.
Há como detectar traços da personalidade através do andar e cada aspecto corporal revela quem somos. Podemos até mesmo confiar ou não no outro a partir da expressão corporal. As crianças confiam mais nesse tipo de informação que os adultos. Se não confiarmos nos nossos sentidos, estamos aniquilando nossa capacidade de sentir e de fazer sentido e quando nos identificamos com a expressão corporal de uma pessoa, podemos sentir seu significado. Ou seja, quando se assume a atitude corporal de uma pessoa, pode-se captar os sentimentos daquela expressão. Quando a pessoa tem expressões já crônicas, torna-se sem consciência, pois as tensões perdem sua carga energética. Mas a linguagem do corpo não mente e outro corpo pode compreendê-la. Como exemplo temos traços masoquistas que são expressados quando alguém está de nádegas contraídas e de músculos tensos nessa região e o indivíduo adota compensatoriamente uma atitude de desafio na metade superior do corpo.
Como todos os padrões tensionais traduzem os traumas vividos no crescimentos, rejeições, privações, seduções, frustrações, etc, estão em todos os seres humanos, os próprios terapeutas de bioenergética submetem-se a um programa de treinamento para colocá-los em contato com seus corpos.
A expressão “segunda natureza” surge na aplicação da descrição de atitudes físicas e psicológicas e passam a fazer parte da vida da pessoa, por isso, é crucial que possamos reconhecer a existência da “primeira natureza”, a causa, a distinção entre a primeira e segunda natureza. Dessa forma, pode-se ter uma vida mais saudável e uma cultura sadia apoiando-se na primeira natureza.

Perguntas sobre Mitologia Hindu_ótimo para quem não sabe nada sobre isso!!!

1 – o que e Devas, Asuras,?
Qualidades de Indra, Varuna, Agni, Soma
R. Devas são Deuses tem poderes e sabedoria sobre humanos, e Asuras são como o lado oposto, tão poderosos como Devas porem demoníacos.
Indra – deus atmosférico, associado a tempestade, tem energia muito grande, capacidade de vencer os inimigos.
Varuna – deus celeste, e onisciente, esta relacionado a todas as coisas que estão no céu, tem mil olhos, a lua e o sol são seus olhos.
Agni – deus terrestre do fogo, tem muitas formas, filho da terra e Dyaus, deva que nasce muitas vezes, onipresente.
Soma – outro deva terrestre, depois é associado a Lua e passa a ser celeste.
2 – o que são ritos védicos? Aswa medha e Upanaiana Diksa e Rajasuya
R. existe duas categorias – os domésticos (Grhya) realizados pelo dono da casa e solenes (Srauta) realizados por sacerdotes ou oficializantes. Aswa Medha – sacrifício do cavalo e Upanayama – ritual de iniciação. Diksa rituais de consagração e Rajasuya – sagração do Rei.
3 – características do 1 e 2 período védico.
R. Carlos A . Tinôco - O pensamento védico é o produto do sincretismo de duas concepções religiosas: a primeira foi traduzida pelos invasores arianos quando estes povos de origem indo-européia irroperam no noroeste da Índia, por volta de 2000 a.C.; a segunda eram as religiões autóctones, de origem dravidiana. Os textos védicos são os primeiros monumentos literários da índia e dos mais antigos da humanidade. O Pensamento Védico é um texto fascinante, que transporta o leitor a um passado remoto da Índia e seus mistérios.

4 – o que são bramanas e araniakas
R. brahmanas são instruções rituais detalhadas, como um manual para o sacerdote.
Araniakas são textos filosóficos. Junto com os upanishads constituem o Vedanta, o fim dos Vedas, são os textos da floresta.

5 – o que são upanishads
R. quer dizer sentado perto do mestre, são textos secretos, esotéricos escritos na Índia em sânscrito sobre a natureza do ser e do absoluto. Coisas ensinadas oralmente de mestre para discípulo, textos filosóficos que so pessoas muito avançadas poderiam ler ou estudar.
São tratados filosóficos sobre a Verdade Última, sobre a Realidade.

6 – cite os upanishads antigos primarios, Tat Twan asi Tú ES isto– parábola do chamado guia com a semente de figo

1. R. BRHADARANYAKA - presume-se que é o mais antigo. Fala que o caminho meditativo está ligado a conceitos sacrificais e completa o Çatapatha Brahmana. Traz instruções sobre o sacrifício do cavalo e especula a origem do mundo oriundo do Ser Uno que se dividiu em masculino e feminino originando o Cosmo.

2. CHANDOGYA UPANISHAD – traz especulações sobre a sílaba OM e o segredo dos cantos, e contém a famosa parábola que ilustra o mantran TAT TVAM ASI. Como prática do sacrifício internalizado tornou possível o desenvolvimento do Yoga entre a ortodoxia ariana.

3. TAITTIRYA – acentua as implicações místicas dos cantos védicos e o sacrifício. Seu ensinamento mais peculiar é a doutrina de que tudo é “alimento” (Anna) – o entrelaçamento de tudo – a cadeia da vida.
outro ensinamento é a doutrina dos cinco revestimentos, ou seja, quando o sábio atinge o ápice do Yoga ele realiza sua unidade essencial com o mundo terreno transcendente.

4. AYTAREYA – constituído de material cosmogônico arcaico.

5. KAUSITAKI – ritualístico – expõe a doutrina do renascimento e traz uma descrição do caminho para o mundo de Brahman.

6. KENA – significa “Por Quem?” pergunta pela causa da consciência externa do homem (mente, fala, visão) abordagem sobre o Eu Transcendental.


7 – cite os upanishads secundários antigos e explique o segredo da morte
R. KATHA UPANISHADS – o mais antigo Upanishads a se ocupar do Yoga. Suas doutrinas falam sobre a morte e também propõe o Yoga da Automeditação (Adiyatama). Seu 2º capítulo contém a definição do padrão yogaépico. Considera-se que o yoga seja a sujeição firme dos sentidos. O Atman que está além da consciência humana só é acessado pela meditação intuitiva, pela concentração mental ou pelas práticas yóguicas.

SVETASVATARA UPANISHAD – traz profundas questões metafísicas que conduzem à formulação da concepção de Deus com o Indestrutível que sustenta toda a criação – a roda da existência (Brahman Chakra).
Contém a primeira descrição sistemática da operação yóguica. Neblina, fumaça, sol, vento, fogo, pirilampos, raio, cristal e lua são fenômenos preliminares que efetuam a manifestação do Brahman no Yoga. Com as características quíntuplas do yoga, o aparecimento da terra, água, fogo, ar e éter não há mais velhice e morte para aquele que atinge um corpo feito do fogo do Yoga. Também é o primeiro Upanishad a empregar a palavra Bhakti (devoção).

MAITRAYANYA UPANISHAD – traz um conjunto de ensinamentos brahmânicos e doutrinas do Yoga e do Samkya. Percebe-se uma influencia budista. Traz informação detalhada sobre a sílaba sagrada OM. Enuncia um yoga de seis etapas e traz um elemento novo TARKA (reflexão). O objetivo deste yoga é o Ser Supremo ou Senhor que é fonte de toda criação e seu mantenedor. Ele só pode ser alcançado por uma técnica especial de concentração (Kecarí Mudra).

IÇA UPANISHAD – é o menor e talvez o primeiro Upanishad versificado. Expõe uma espécie de Karma Yoga. Faz uma mediação entre a concepção não dualista do Absoluto e as obrigações terrenas do homem. Ensina a renúncia interior.

MUNDAKA UPANISHAD – considerado uma das fontes do Bhagavad Gita. Versificado, distingue as duas formas de conhecimento (superior - Para Vidya e inferior – Apara Vidya) pelas quais a realidade última pode ser conhecida. Todas as coisas manifestas estão estabelecidas no Absoluto. Ele é a origem de todas as formas de existência.

PRAÇNA UPANISHAD – consiste de seis questões feitas pelo discípulo ao mestre. Enfoca o significado do prana como o fogo no homem. Vida concebida como sacrifício e domínio das correntes de alento é visto como o melhor meio de adoração.

MANDUKYA UPANISHAD – exposição dos três componentes da sílaba sagrada OM (A + U + M) e são correlacionadas com os Três Estados da Consciência que são: JAGRAT (A = Brahman = Criação – Estado Vigília), SVAPNA (U = Vishnu= Conservação - Estado = Sonho), SUSHUPT (M= Shiva = Dissolução – Estado = Sono Profundo sem Sonhos) e TURIYA = O (Absoluto) que transcende os três estados.


8 – o que são itihasas?
R. Os Itihasas sao os Epicos nos dando maravilhosas histórias de interesse absorvente, e com grande importância, através das quais todos os ensinamentos fundamentais do Hinduismo são impressos de forma indelével na mente de quem as estuda. As leis do Smriti e os princípios dos Vedas são gravados firmemente nas mentes dos Hindus, por meio destes nobres e maravilhosos feitos, realizados pelos seus heróis nacionais.

9 – qual a mensagem do ramaiana? Destaque elas
R. nos valores morais que a epopéia proclama com tanta energia. Um tratado perfeito sobre o que o yoga chama de prescrições (yama) e restrições (niyama) morais. Exalta virtudes como a justiça (dharma), a não violência, a veracidade e a penitencia. Pode servir como um livro de instrução sobre Karma-Yoga, o Yoga da ação autotranscendente.

10 – qual objetivo do dialogo de arjuna e krishna no bhagvad gita?
R. essa conversação imortal e o clímax da epopéia. Sua importância para o estudante de yoga e evidente por si, pois o Gita deve ser considerado o primeiro texto a tratar explicitamente de Yoga. E, em suas próprias palavras, um yoga-shastra, um ensinamento yogue, que reafirma antigas verdades.

Resenha: Mahabharata_A grande epopéia do homem


MAHABHARATA
Quinze vezes maior que a Bíblia e composta durante um período de cerca de 400 anos, entre os séculos 2 a.c e 2 d.c, o Mahabharata, um termo em sânscrito que significa “a grande história da humanidade”, fala da essência cultural indiana.
A história conta uma disputa de reino de dois grupos de primos e que resulta numa apocalíptica batalha onde os conflitos decorrem da desobediência do dharma (lei que rege a ordem secreta e pessoal).
A história é contada por Vyasa, um velho eremita, sujo, maltrapilho e tomada por Ganesha, que a escreve num livro. A história começa na Idade do Ouro e a terra (reinado de Santanu) vivia sem atribulações e misérias. Apaixonado por Satyavati, mãe de Vyasa, o rei foi pedi-la em casamento ao pescador que a havia criado. A condição é que o filho que tivessem fosse o rei depois dele. O rei não podia atender ao pescador pois Bhishma era o sucessor. O rei definhava de tristeza e Bhishma foi procurar o pescador, prometendo-lhe em troca de Satyavati, renunciar seus direitos e jamais aceitar o amor de uma mulher para evitar que seus descendentes reclamassem o reino.
Santanu e Satyavati tiveram dois filhos. Um morreu na guerra e o outro em sua noite de núpcias deixando dua viúvas. Santanu também já havia morrido e Bhishma recusou quebrar o seu voto. Satyavati recorreu a Vyasa para continuar a dinastia e ao vê-lo ficou repugnada pelo seu aspecto, fechou os olhos e seu filho, Dhritarashtra, nasceu cego. A segunda por causa do mau cheiro do poeta, perdeu as cores e seu filho, Pandu nasceu branco como o leite.

Como Dhritarashtra não podia ficar no trono por ser cego, Pandu foi coroado, casando-se com duas mulheres, Kunti e Madri.

Kunti, que tinha o poder de ter filho das divindades, teve Karna, o filho do sol, o qual ela abandonou num cesto na correnteza de um rio, sendo criado por um cocheiro.

Um dia Pandu foi amaldiçoado na floresta por uma gazela, por ele ter tentado cassá-la quando esta acasalava. Se um dia Pandu tomasse uma das esposas, morreria como a gazela morreu. Amargurado, decidiu perdeu-se na floresta mas foi seguido por suas esposas (kunti e Madri).
Pandu entregou as insígnias reais a Dhritarashtra, que logo se casou com Gandhari, uma princesa do Norte. Triste por não poder ter filhos, Kunti decidiu usar um mantra e assim nasceu Yudishstthira, Bhima e Arjuna. Madri emprestou o mantra e invocou os gêmeos dourados, os belos Nakula e Shadeva, conhecidos como Pandavas.



Gandhari (esposa de Dhritarashtra), ficou grávida de uma bola de carne dura e fria, tentou jogá-la num poço, mas Vyasa a impediu, mandando que cultivasse e assim nasceu os cem filhos, portadores de violência, conhecidos como Kauravas. O primeiro deles era Duryodhana.

kauravas
Bhishma tentou dar uma educação exemplar aos Kauravas e aos filhos de Pandu, que morrera nos braços de Madri no Himalaia. Duryodhana tentou várias vezes matar os primos pandavas e Bhima também atormentava os primos.
duryodhana



Drona, o mais célebre mestre de armas ofereceu-se a Bhishma para educar os jovens. Colocando-os em teste, percebeu as potencialidades de Arjuna e prometeu fazer dele o melhor arqueiro do mundo.
Drona
Muitos anos depois, enquanto os Pandavas e sua mãe Kunti viviam fora do palácio, Duryodhana procurava mantê-los distantes e sem muito recursos. Um dia, o filho secreto de Kunti e do Sol, desafiou Arjuna que era o mestre do Arco. Dessa forma foi nomeado rei do país de Anga por Duryodhana. O combate não se realizou, mas karna prometeu abater Arjuna um dia. Teve apoio de Duryodhana.
arjuna
Arjuna conquistou a bela princesa Draupadi e os cinco Pandavas casaram com ela. Krishna convocou os irmãos, avisando que Yudishsthira (o irmão mais velho) deveria ser o rei da dinastia e para evitar uma guerra, seu tio Dhristarashtra concedeu-lhes a terra de Khandavas-Prastha, onde os irmãos transformaram num reino próspero por seis anos. O palácio era mágico e Yudishsthira convidou todos os reis e seus tios e primos para conhecerem o novo palácio.
Yudishsthira


Duryodhana com inveja da prosperidade dos primos, aliou-se a seu tio Shakuni, mestre no jogo de dados e desafiou Yudishsthira, que tinha como fraqueza o jogo e sendo desafiado, não resistiu e perdeu todo seu reino, os irmãos e a esposa Draupadi, que lançou uma maldição sobre os Kauravas.
O rei cego, com medo da maldição, libertou os Pandavas, mas Duryodhana, temendo a guerra, mandou recapturá-los. Yudishsthira aindda perdeu mais uma partida onde resultou num exílio de 12 anos na floresta sem serem descobertos, senão, teriam que ficar mais 12 anos. Nesse tempo, Arjuna foi à Shiva onde obteve a Pasupata, a arma absoluta, capaz de destruir o mundo.

No 13º ano os Pandavas foram viver disfarçados no reino de Virata. Draupadi impulsionou Arjuna para uma guerra provocada pelos Kauravas, revelando o segredo dos Pandavas. Assim o grande conflito começou no campo de Kurukshetra.
Tudo estava pronto. Bhishma comandava os Kauravas que também contavam com a ajuda de Drona. Arjuna chefiava os Pandavas. Krishna era o seu cocheiro.

No início do combate, Arjuna demonstra seu pavor a Krishna, pois teria que matar seus parentes queridos. O ensinamento que fez Arjuna lutar contra seu próprio ego e apegos está contido no Bhagavad-Gita, dentro do próprio Maha-bharata. Assim, Arjuna soprou sua concha e os exércitos começaram a lutar. Quando a guerra terminou, milhares de guerreiros estavam mortos. Todos os Kauravas e todos os filhos dos Pandavas e de Draupadi também. O reino ficou em paz durante 36 anos e os Pandavas e Draupadi envelheceram amados por todos.
No fim desse tempo, Krishna viu seu reino ser esfacelado e foi morto por um caçador numa floresta. Dhritarashtra e Gandhari foram morrer na floresta.
Diz a história, que todos os irmãos Pandavas caíram num abismo, menos Yudishsthira, que depois foi convidado para entrar no paraíso onde estavam todos os seus entes queridos. Encontrou lá também seus primos. Seus irmãos e sua mulher estavam nas profundezas da terra e foi levado pra lá de onde saíam gritos, urros e gemidos. Revoltado, renegou os deuses e recusou-se a voltar para o paraíso. Assim, a cena se dissipou e em seu lugar apareceu árvores, pradarias e um rio calmo, onde estavam seus irmãos e Draupadi, Drona, Bhishma, seus tios, sua mãe e o próprio Vyasa, todos felizes. Chegou o tempo de paz.


BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Maria Cristina Rosa de Almeida, Mahabharata – A grande Epopéia do Homem – PLANETA, dezembro/91
Ilustração: www.facebook.com

Psicologia: O que é imposto pela Sociedade_Escrito por Pérola de Souza

O padrão imposto pela sociedade para todas as idades é cruel. Temos um modelo para tudo, crianças, adolescentes, adultos e terceira idade. Cada um deles sofre quando sai desses padrões. Criança que fala como adulto é intrometida, precoce e deve ter problemas. Adolescente que se comporta como criança tem problemas emocionais e deve ter tido problemas na fase oral ou outra qualquer. Adulto que namora com adolescentes tem problemas sérios de adolescência mal resolvida e é safado. Adolescente que namora adulto teve problemas com a mãe ou com o pai. O pior é quando a “melhor idade” decide curtir a vida. Então surge o comentário de mais mau gosto que existe: “O velho pirou de vez”.
A idade que deveria ser mais admirada é justamente a mais velha. Ou seja, quanto mais idade a pessoa tem, mais experiência de vida, mais histórias, mais coisas para compartilhar...além de poucos darem o devido valor, ainda ridicularizam quando alguém acima dos sessenta decide realmente viver, podendo escolher os programas, as roupas, a comida, a música conforme o que gostam de verdade e não aquilo que é imposto para sua idade.
Vou contar uma situação muito interessante que me chamou a atenção e nunca mais vou esquecer. Meu pai, filósofo, estudioso, erudito tinha um amigo do qual gostava de dividir as horas filosofando. Esse amigo do meu pai está hoje com mais de 80 anos. Lembro que nos anos 80, vi meu pai perguntando para ele se estaria presente numa Convenção Rosacruz do qual freqüentávamos todos os anos e que para nossa família era um acontecimento onde o mundo parava. Esperávamos que ele, como Rosacruz, estivesse lá. Então ele olhou para meu pai com uma risadinha e disse: “Puxa vida Hermanito, tenho um compromisso muito importante e do qual não tenho como adiar...” Então me pai disse: “Nossa, deve ser algo muito especial, pois seus olhos brilharam...” Então seu amigo respondeu: “É sim, estou indo para o Rock In Rio...” Lembro da expressão do meu pai, assustado mas ao mesmo tempo deslumbrado. Deve ter pensado: “puxa que coragem!”
Lembro também do comentário mais falado na minha casa na época sobre isso: “Nossa, não tem jeito mesmo, esse não cresce, pensa que é jovem, vai fazer o que lá no meio da molecada...” Lembro também de ter ouvido: “Ah, mas esse sempre foi meio safado mesmo.”
Anos depois encontrei com ele numa festa promovida por duas amigas psicólogas que estavam inaugurando um Centro de psicologia transpessoal. Ele estava noivo de uma delas, pelo menos 20 anos mais jovem. Fiquei tão orgulhosa dele. Ele me puxou para uma conversa pois estava preocupado com a linhagem de yoga que eu estava praticando na época e me disse que eu deveria procurar o pessoal do Osho. Quando segui seu conselho e comecei a ler alguma coisa, entendi porque aquele homem era tão jovem, quebrando padrões e isso serviu de inspiração para mim, ou seja, quando eu crescer, quero ser como ele. Ele conseguiu quebrar padrões. Acho que a nossa sociedade está caminhando para isso. Espero que quem quer que seja meu parceiro quando eu tiver sessenta, goste de usar blazer vermelho e mergulhar em cachoeiras...e o texto me levou a pensar, que o primeiro padrão que deve ser quebrado é o medo da morte (para que não tenhamos que agir como defuntos antes de morrer) e o segundo é a forma como devemos nos comportar. Ser aquilo que somos e não o que a sociedade impõe. Preconceito é visto em todas as idades. Quando eu saio do treino com bermuda de atleta e preciso pegar meus filhos na escola, sinto que olham para mim com cara de “onde já se viu uma mulher dessa idade andar desse jeito”, “onde já se viu nessa idade estar pegando onda” Isso me falaram pessoalmente. Hoje, tenho visto muitas pessoas com mais de sessenta anos pegando onda. Quebrando padrões...isso me dá muita esperança de ver uma sociedade diferente quando eu tiver chegando nos sessenta...

Pesquisas e questões sobre textos de yoga escolhidos pela Professora Cláudia Regina Teixeira Rocha

QUESTÕES RESPONDIDAS POR ESCRITO, TENDO POR BASE A LEITURA DOS TEXTOS MENCIONADOS ABAIXO, DOS QUAIS FOI SOLICITADA A LEITURA, BEM COMO SEU CONHECIMENTO PRÉVIO SOBRE O ASSUNTO.
TEXTOS DE REFERÊNCIA:
Ÿ TIWARI, M. O Caminho da Prática. Rio de Janeiro: Rocco, 2004. Cap. 5 ( p.127-146);
Ÿ GULMINI, L.C ...[et al.] Estudos sobre o Yoga. São Paulo: CEPEUSP,2003. Parte I – Construindo o Conceito de Yoga – ROJO, M. O que é Yoga ? ( p.49-65);
Ÿ DESIKACHAR, T.K.V. O Coração do Yoga. São Paulo: Jaboticaba, 2007. Parte 3 – O Yoga Sutra de Patanjali – Cap. 2 – SADHANAPADAH (p.243-267) – Sutras 2.1 a 2.14


1. Suponhamos a seguinte situação: “você acaba de assumir uma turma de Yoga, como professor(a), e esta turma é de iniciantes. As idades são variadas, há homens e mulheres, ou seja, a turma é heterogênea, composta de 20 alunos. Após uma anamnese inicial, feita através de questionários que foram entregues e respondidos pelos alunos antecipadamente, você identificou casos de pressão alta, depressão e síndrome do pânico e decidiu – de imediato – por colocar alguns exercícios respiratórios como foco de sua primeira aula. “ Agora responda:

A). Sua decisão é adequada e pode ser aplicada? Por quê e como ? Explique como você procederia, que tipo de precaução tomaria, os exercícios indicados ou não, etc.
Sim, a decisão é bem adequada já que um trabalho com Adhama Pranayama (por exemplo) serve para todos, sem contra indicação e sem dúvida vai auxiliar no equilíbrio fisiológico e energético tanto para os praticantes que tem enfermidades tanto para aqueles que não tem nenhum problema de saúde aparente mas que vão se beneficiar muito com a vitalização da reeducação respiratória.
B). Como você falaria aos seus alunos sobre os prana vayus, numa explicação do que sejam e onde ou como atuam ?
Explicaria que o Prana é composto de 5 ventos “ares” diferentes com funções distintas dentro do corpo e da mente. Trabalhar pranayamas faz com que esses vayus se equilibrem com o universo. Quando o prana não está funcionando bem a nossa energia vital é ameaçada. Já que Prana inunda laringe, coração influenciando no sistema respiratório e sanguíneo. Já Udana preserva nossa voz interior e faz com que percebamos melhor as coisas. Samana rege o metabolismo e a digestão enquanto apana é a energia de eliminação e capacidade de reprodução. Vyana age na circulação e todos esses “ares” agem também no rosto e cérebro. Equilibrando os vayus o praticante é beneficiado com boa eliminação, saúde nos órgãos internos, metabolismo equilibrado, boa respiração e circulação, clareza de pensamentos e fala e uniformidade na temperatura do corpo. Ou seja, equilíbrio que pode ser adquirido com os pranayamas.

C). Assumir uma prática de equilíbrio da respiração solar e lunar – conforme é tratado no texto de TIWARI – pode ser tido como uma forma de sadhana? Por quê ?
Sim, sem dúvida porque alinhamos a nossa respiração com o ritmo diário, com mais consciência e equilibramos os dois canais de prana (ida e pingala). Alinhamos a nossa respiração com a respiração cósmica

D). Descreva, da maneira mais clara e simples que conseguir, os procedimentos que TIWARI indica para – ativar a energia lunar e solar, bem como para equilibrar tais.
Primeiro deve-se verificar qual é a narina que está permitindo a entrada de maior quantidade de ar. Se o ar é mais forte do lado direito, quer dizer que a respiração solar está mais ativa. Se for o esquerdo então a lunar está mais ativa. Expira-se fortemente com uma narina de cada vez, com a mão em frente a narina para perceber em qual narina o ar sai com mais força. Como o objetivo é harmonizar com o dia com a respiração lunar e a noite com a respiração solar, deve-se ativar a respiração respectiva. Por exemplo: Se começamos o dia com a narina solar (narina direita)ativa então devemos usar a mão na axila para abrir o canal e alterar a respiração de narina para narina até abrir. Pode-se usar também a respiração alternada das narinas, podendo colocar ritmos (anuloma viloma).

E). No SADHANAPADAH, segundo capítulo do Yoga Sutra de Patanjali, que trata sobre a prática do Yoga, estão relacionados 05 obstáculos (kleshas) que estão na base de todo o sofrimento humano, também traduzidos como aflições. Quais são eles? Seria possível falar sobre isso aos seus alunos iniciantes ? Como ?
Os Kleshas são:
Compreensão errônea – erros de percepção.
Falsa identidade – identificação com a mente.
Apego excessivo – objeto como felicidade.
Aversões sem razão – samskaras
Insegurança – ansiedade.
Sim, sem dúvida é possível explicar aos iniciantes sobre os kleshas, inclusive induzi-los a perceber os obstáculos nos ásanas, de forma sutil pois são iniciantes, mas significante, trazendo a percepção do novato para esses conceitos. A aflição que os praticantes iniciantes tem no sádhana pode ser traduzida, numa linguagem corporal como meio de entender o ser.
2. Imagine-se numa segunda situação: “você dá continuidade às aulas de Yoga e tem amadurecido sua própria prática pessoal. Permanece atuando com uma turma heterogênea, de alunos iniciantes. Num dia, sem aviso prévio, um aluno o(a) aborda e pergunta “o que é Yoga”? Você dá uma resposta, relativa à prática psicofísica dos asanas, à aprendizagem mental que isso traz e, por fim, embora tenha esclarecido algo ao aluno, sente que deveria “dizer” mais. Para a semana seguinte, decide fazer um texto explicando “o que é Yoga”. Como ficaria esse texto ? Relacionem as informações que deverá conter, façam isso em grupo (3 ou 4 pessoas), e preparem um texto para a próxima aula.
Bom, provavelmente usaria os estudos de Georg Feurestein que dão um bom fundamento histórico e filosófico. Aproveitaria dos seus textos comentários sobre a Essencia do Yoga, sobre a idéia de Purusha (o não-manifestado), sobre o que dizem as upanishads que foram os primeiros a ensinar o ritual interno e da absorção nesse fundamento. Citaria o Yoga Clássico de Patanjali que estabelece uma separação entre o Si mesmo transcendente e a natureza (prakriti) e sua definição (citta-vritti-nirodha) sobre a restrição dos turbilhões mentais e que na verdade trata de uma concentração de corpo inteiro, onde todo o ser se aquieta. Obviamente citaria o objetivo do Yoga oriundo de todas as escolas de Hinduísmo que concordam em que a Realidade última é o estado de superconsciência (samadhi) e a busca de (Moksha), libertação. Também esclareceria sobre os significados da palavra yoga (união). Finalizaria dizendo que por mais benefícios que possamos ter com a prática de yoga no equilíbrio das nossas vidas, o objetivo é na verdade muito maior, que é a liberdade e a consciência.

3. Entre os sutras 2.10 e 2.15 desenvolve-se uma idéia relativa às ações (karma) e suas conseqüências (ação e reação). Diz-se nesses sutras que as ações podem estar, e geralmente estão, mescladas aos obstáculos (kleshas), sendo por estes influenciadas e até determinadas. Releia os sutras mencionados e descreva como esta situação - de influência dos obstáculos (kleshas) - é exposta ali. Em seguida, responda :
Ÿ Qual (ou quais) o(s) elemento(s) ou instrumento(s) que pode(m) liberar o indivíduo deste aprisionamento?
Primeiramente, permanecer vigilante e quando perceber o klesha, dominá-lo na reflexão para que ele não fique no comando. Assim procurar um meio de se libertar.

Ÿ Como o indivíduo pode aprender sobre isso - sobre essa liberação ?
Procurar um meio de se libertar que pode ser com sádhana, púja, mantra, bhakti, diversão, etc. No sentido kármico (ação e reação), os kleshas podem mudar o resultado de uma ação influenciando a atitude mental e continuando a gerar problemas com efeitos dolorosos que podem ser o resultado de repetição de experiências e efeitos de condicionamentos, além da mudança do próprio indivíduo. O sádhana ensina a auto-observação, trazendo a tona tudo que pode ser trabalhado, superado, aceito. A prática é um simulado da vida real. Ficando consciente num sádhana, o praticante aprende a ficar atento e vigilante também no dia a dia. Com o tempo o praticante percebe que mesmo depois da prática, o sádhana continua.

Namastê
Pérola de Souza

A sabedoria secreta dos primeiros Upanishads_A tradição do Yoga_Georg Feurestein


A Idade das Trevas da Índia é uma denominação errônea, citada por alguns historiadores como se fosse um período que vai do colapso das cidades do Indo até a época de Buda. Porém aqueles anos não foram decadentes e muito menos sinistros e ao contrário disso, foram marcados por uma revolução cultural onde houve uma revolução cultural através da grande migração rumo ao fértil Gangues.
O rei Bharata (de quem a Índia tira o nome), viveu durante o tretâ-yuga,cinqüenta gerações antes dos Pândavas (história relatada no Mahabharata) e é provável que os hinos védicos já estivessem completos nessa época. Nessa época também foram organizados o Mahabharata, os Puranas e os quatro hinos védicos, ou seja, parece que uma parte do conhecimento dos Samhistas védicos estava perdida e os rituais modificados. Então surgiu um período de reinterpretação do legado védico e a criação dos Brahmanas, Aranyakas e dos Upanishads – considerados partes da revelação sagrada – e de extensos sutras.
Após essa fase, o ritualismo sacerdotal ortodoxo foi se tornando mais complexo e fechado e os leigos passar a ter um relacionamento próprio com a realidade sagrada, voltando-se aos mestres que tinham um contato com a Divindade. Muitos desses mestres estavam fora da ortodoxia sacerdotal como é até hoje na Índia. Os Brahmanes continuaram sendo solicitados para os rituais (casamentos, funerais, etc), e cultos religiosos onde a Divindade era adorada como um ser pessoal e não impessoal e as escolas esotéricas, como a dos Upanishads, prometiam uma união com o Ente supremo.

OS BRAHMANAS
São obras em prosa que explicam os rituais védicos e sua mitologia. Criados pelos sacerdotes védicos, são ortodoxos. O mais antigo dos Brahmanas é o Aitareya-Brahmana, composto de 40 capítulos e que trata do sacrifício do Soma , do sacrifício do fogo (agni-hotra) e da consagração dos reis (raja-suya). Um dos textos fala do mistério sobre a construção do altar do fogo e aos seus significados macrocósmicos e microcósmicos. O altar do fogo é formado por seis camadas de tijolos e seis camadas de argamassa, que representam os doze meses. As camadas simbolizam o prana, apana, vyana, udana, samana e vac. Os 101 tijolos simbolizam os 101 elementos que constituem o sol. Aí entra o Brihad-Aranyaka-Upanishad que dá uma resposta falando dos 101 canais existentes no corpo humano onde apenas um leva a imortalidade (sushumna).
O Shata- Phata- Brahmana fala dos sete mundos celestiais que podem ser os sete chakras de algumas escolas tântricas e do hatha-yoga. É um Brahmana que tem especulações sobre o fundamento do universo, do prana, do renascimento, todas vinculadas ao misticismo sacrifical védico.
O yoga não está citado nos Brahamanas, porém podemos ver no ritualismo algumas fontes que depois formaram a tradição yogue, como práticas proto-yogue, como concentração e controle da respiração (shata-phata), a cerimônia do prana-agni-hotra (sacrifício do fogo pela respiração) e que faz com que a força vital tome o lugar do fogo ritual e é identificada como átman. Esse sacrifício foi importante na “interiorização do sacrifício”, ou seja, transformação dos ritos externos em ritos internos ou mentais.
ARANYAKAS
Conhecidos como ensinamentos das florestas, são parecidos com os Brahmanas e que eram “livros” com rituais ortodoxos para os brahmanes se retirarem para a floresta (aranya), atrás da solidão, em mauna e rituais místicos. É o primeiro sinal de renuncia ao mundo (samnyasa) e que se tornou muito forte na Índia. Muitos Aranyakas se perderam, os existentes ainda são: Aitareya, kaushitaki-aranyaka (ambos do Rig-veda), o Taittiriya-Aranyaka (Yajur-veda Negro) e o Brihad-Aranyaka (Yajur-veda branco). Existem alguns aranyakas que eram sagrados demais para serem divulgados e que preparam o caminho para a doutrina mais esotéricas dos Upanishads que eram o Sama-veda e o Atharva-veda.

O ALVORECER DA ERA UPANISHÁDICA
Brihad-Aranyaka, Chandogya, Kaushitaki-Aitareya e Kena-Upanishad, datam de mais de três mil anos, são as upanishads mais antigas e refletem a forma de meditação e contemplação intensas. Alguns trechos do Kaushitaki-Brahmana-Upanishad demonstram como o sacrifício do fogo já era praticado pelos sábios que compuseram os Brahmanas e pelos videntes védicos.
Pode-se citar alguns Bramanes de destaque como Yajnavalkya, da nobreza, outros que viviam no isolamento das florestas, outros eram reis poderosos e o que todos eles tinham em comum era a aspiração pela sabedoria até chegar na realização da Realidade Incondicionada, que eles deram o nome de brahman, o Absoluto, que vem da raiz crescer.
Eram voltados para a meditação ou adoração interna para obtenção do conhecimento mas ainda ligados aos rituais sacrificiais. Até mesmo os ascetas praticavam o culto da sociedade védica convencional.
A palavra Upanishad significa “sentar-se no chão perto”, pois os que queriam o conhecimento tinham que se sentar próximos aos sábios com respeito e humildade necessários, pois a sabedoria era sussurrada.
A doutrina das Upansihad tem quatro eixos conceituais interligados:
· A realidade Suprema – absolutamente idêntica à nossa íntima essência; Brahman é Atman e Atman é Brahman.
· Só a realização liberta do sofrimento (nascer, viver e morrer).
· Os pensamentos e ações do ser determinam o seu destino – lei do karma.
· Se não se libertar e realizar, terá de nascer nos mundos inferiores dependendo do seu karma.
Segundo estudiosos a doutrina do Karma e da reencarnação surgiu da era dravídica, outros acham que os próprios sábios das Upanishads desvendaram o ciclo de nascimentos e mortes, mas ambas as opiniões ignoram que os rishis rig-védicos conheciam a reencarnação e o karma. Já a fuga da roda de nascimentos sucessivos tornou-se logo um dos principais motivos da espiritualidade indiana.
Passagens do Upanishad descrevem a suprema Realidade como Consciência pura e sem forma que não podem ser descritas, só pode ser realizada, que é a constatação imediata de que o si mesmo é infinito, eterno e bem-aventurado.Os primeiros Upanishads têm poucas instruções práticas sobre meditação. São consideradas revelações védicas e por isso são chamados de Vedantas (fim dos vedas). Todas as doutrinas subseqüentes deixam de ser shruti (revelação) e passam a ser smriti (tradição).
A EXTENSÃO DA LITERATURA UPANISHÁDICA
Existem mais de duzentos upanishads sendo que a maioria já foi traduzido para o inglês. Os tradicionalistas reconhecem 108 upanishads. Existem os mais antigos que são divididos em grupos.
O primeiro grupo compreende:
Brihad-Aranyaka
Chandogya
Taittirya
Kau-shitaki
Aitareya
Kena
Maha-narayana

O segundo grupo compreende:
Samayana-Vedanta-Upanishads – Vedanta em geral;
Samnyasa- Upanishads – ideal de renúncia;
Shakta- Upanishads – ensinamentos ligados shakti;
Upanishads Sectários – cultos religiosos ligados à divindades;
Yoga- Upanishads- explicam aspectos do processo yogue e do hatha-yoga, incluindo obras que foram escritas já na Era Cristã.
Nenhum desses textos eram escritos, inclusive os sútras. Eram memorizados e transmitidos oralmente de mestres a discípulos. Mesmo a memorização não sendo uma realização por sim mesma, ajudava a levar o estudante a um grau elevado de concentração, importante para o trabalho espiritual, ficando em contato permanente com a sabedoria.
BRIHAD-ARANYAKA UPANISHAD
É mais antigo Upanishad onde a meditação está ligada à rituais de sacrifício onde começa com o sacrifício do cavalo (ashva-medha) visto como um acontecimento cosmológico, para assegurar a contínua prosperidade do reinado.
Feurestein nos conta que a esposa do sacrificante simula uma relação sexual com o cavalo morto antes de ele ser retalhado e cozido onde a mulher absorve a energia vital do cavalo, como simbolismo sexual do Tantra. Em outra literatura de Roberto Calasso, KA, da Compahia das Letras, Editora Schwarcz Ltda, 1999, diz que antes de morrer, o cavalo era amarrado a outras doze vítimas animais, e era solto para delimitar quais seriam as terras conquistadas pelos reis, onde viria a ser Mahabharata. O cavalo passou a simbolizar o sol e, portanto, o Si Mesmo transcendente.
É nos versos de Yajñalvalkya que aparece a liberação do homem da roda do renascimento:
“Quando nascido, na verdade, ele não nasce outra vez.
Quem poderia procriá-lo novamente?
Brahman é conhecimento, é bem-aventurança,
O objetivo final do doador de ofertas,
Dele,também, que permanece o conhece”.
Brhadaranyaka-Upanishad – (III.9.28)

CHÂNDOGYA-UPANISHAD

Das palavras chandas ou “hino” e ga ou “ir”, foi que Chândogya surgiu trazendo a referência do Sama-veda, onde rituais de sacrifícios eram cantados pelos chândogas, os cantores védicos.
Isso evidencia o surgimento das especulações sobre o som sagrado, a sílaba om, que é o mantra mais importante do Hinduísmo, e que traz uma longa história que remonta os tempos védicos. A sílaba era vocalizada antes de depois de todos os rituais e considerada uma revelação divina.
Para os Yogues é o som ouvido durante a meditação profunda, que vibra pelo cosmo inteiro, enquanto para outras tradições (como pitagórica e neoplatônica) chamam de “música das esferas”, ou seja, a harmonia cósmica produzida pelo movimento dos corpos celestes.
É no terceiro capítulo que aparece o sagrado gayatri-mantra e é em Chandogya que aparece a parábola que ilustra o mantran “TAT TVAM ASI”.
No mesmo capítulo tem uma seção que fala de Krishna identificado como Krishna da epopéia Mahabharata. Menciona-se a doutrina onde na hora da morte a pessoa deve repetir três vezes:
Tú és o imperecível! Tú és o imutável! Tú és a própria essência da vida”. Essa doutrina assemelha-se ao ensinamento do Senhor Krishna no Bhagavad-Gita, onde o último pensamento da pessoa dever ser votado a Deus a nenhuma outra coisa mundana. Essa doutrina é uma referência de Ghoura, mestre de Krishna.
Ainda nesse capítulo, segundo Ghoura, tapas, dana, arjava,ahimsa e satya (ascese,caridade,retidão, não-violência e a veracidade, devem ser as oferendas sacrificiais dadas ao sacerdote oficiante (viver corretamente é o maior presente que se pode dar a um mestre pelos ensinamentos recebidos). Ghoura indica o vínculo entre Krishna e a tradição do Atharva-Veda, e essa idéia é reforçada pelo Bhagavat- Gita.
No Chandogya-upanishad surgiu com a “Doutrina do Mel” (Madhuvidya) que é citada também no Rig-veda e Ahtrava-Veda, com a prática do sacrifício internalizado que tornou possível a mudança para o ritual ariano, chamando de sacrifício (Brahmacharya), através da castidade. O mel representa o néctar da imortalidade e segundo o Tantra é produzido no próprio corpo. Os mesmos cinco tipos de néctar são os mesmos reconhecidos pelo Tantra.
Conhecimentos a respeito dos Pranayamas surgem da prática yogue de controle da respiração, fazendo exposição de formas da força vital (prana), chamadas de aberturas divinas do coração.
“O Conhecedor do Absoluto “não nasce nem se pões, mas permanece solitário no centro”.
Chândogya-Upanishad – (3.11.1)

TAITTIRIYA-UPANISHAD
Inserido na tradição Yajur-Veda, Taittiriya-Upanishad (terceiro mais antigo), provém do mestre Tittiri (significa perdiz) e é semelhante ao Chândogyia-Upanishad, pois também dá ênfase aos cânticos e sacrifícios védicos.
A Doutrina recebida por Bhrigu, é a mais importante para o yoga, e diz que todas as coisas devem ser concebidas como alimentos (Anna). Esta Upanishad ensina que existem graus diferentes de felicidade que começam com a simples alegria ou prazer de uma vida próspera na terra até a bem-aventurança do Absoluto.
A doutrina do panca-kosha (cinco invólucros) pode ser vista no versículo:

“Aquele que sabe disto, a partir desse mundo,
Passa ao si mesmo que é feito de alimento,
passa ao si mesmo que é feito da força vital,
passa ao si mesmo que é feito de mente,
passa ao si mesmo que é feito de conhecimento,
passa ao sim mesmo que é feito de bem-aventurança.”

Taittiriya-Upanishad (2.8-9)

Essa doutrina a que me refiro nesse estudo, dos cinco invólucros, são:
v Anna-maya-kosha – invólucro feito de alimentos, ou seja, corpo físico.
v Prana-maya-kosha – invólucro feito de força vital, ou seja, corpo etérico.
v Mano-maya-kosha – invólucro feito da mente, ou sentido interno ligado ao corpo físico e ao corpo etérico.
v Vijnâna-maya-kosha – invólucro feito de conhecimento, ou seja, mente, sentido interno, coordenando as informações recebidas pelos sentidos, ao passo que vijnâna é uma função cognitiva superior.
v Ânanda-maya-kosha – invólucro feito de bem-aventurança. Posteriormente o Vedanta afirma que o Absoluto transcende os cinco invólucros.

Outros Upanishads antigos
O AITAREYA-UPANISHAD possuidor um material cosmogênico arcaico, cita o Si mesmo (átman) como criador do universo, da sua própria essência, criando os elementos materiais, os devas e faculdades como audição e visão que se uniram a forma humana e o alimento para todas as criaturas. No final do ato da criação, surge o Sahasrara-chakra, por onde o Si Mesmo entra no corpo humano.
O KAUSHITAKI-UPANISHAD fala sobre a doutrina do renascimento, do caminho que leva ao mundo do absoluto, Brahma-loka, e um discurso sobre o prana ressaltando que Vida é prana, prana é vida.
O KENA-UPANISHAD que significa “por quem?” é um questionamento sobre quem enviou a mente, a palavra e a visão que faz com que a nossa consciência volte para o exterior. A responsável pelo envio dessa consciência externa é a mesma Realidade de onde vêm os objetos dessa consciência condicionada.

OS PRIMEIROS YOGA-UPANISHADS (UPANISHADS SECUNDÁRIOS)
Os indianos, eram politeístas, encontravam divindades em toda parte. Encaminharam-se para o monismo (diferente do monoteísmo – um só Deus), mas que todos os deuses, todos os homens e todas as coisas são manifestações diferentes da divindade, de um espírito que enche o universo. Esse conceito é expressado na parábola famosa A Essência Sutil (Chandogya- Upanishad) que fala da divisão do figo até que se torne em pequenas sementes, o que as grandes figueiras crescem, demonstrando que a alma é assim, um espírito invisível que a tudo se estende.
KATHA-UPANISHAD
Considerado o mais antigo upanishad a falar do yoga. Sua narrativa é sobre a morte e é onde o Rei da morte revela o último segredo: “Além da vida e da morte, o segredo é AUM, a vida eterna, o BRAHMAN”. O nome Katha deriva de uma escola védica associada ao Yajur-Veda Negro. O desenvolvimento das novas doutrinas yogues aparece em torno de uma antiga lenda onde um brâhmane pobre ofereceu aos sacerdotes, como sacrifício, algumas vaca velhas e fracas. Seu filho Naciketas, preocupado com o pai na outra vida ofereceu-se a si mesmo como oferenda mais digna. Seu pai com muita ira, enviou o filho a Yama, soberano o mundo da morte. Yama estava ausente e Naciketas teve que esperar três dias sem comer e nem beber até o que Yama voltasse ao reino. Feliz com a persistência de Naciketas, Yama ofereceu-lhe três pedidos. No primeiro, Naciketas pediu para ser devolvido vivo ao seu pai, no segundo pediu para conhecer o segredo do fogo sacrificial que leva ao céu e por fim, como terceiro pedido pediu para conhecer o mistério da vida após a morte. Yama tentou de várias formas fazer com que Naciketa desistisse do último pedido, oferecendo-lhe coisas aparentemente muito mais interessantes mas este não aceitou e Yama passou a instruí-lo no caminho da emancipação. A história reflete um processo iniciático, que exige reclusão, jejum e confronto com a morte.
O “Yoga do Si Mesmo Profundo”, chamado adhyâtma-yoga afirma que o Si Mesmo não é uma coisa que se possa perceber ou analisar de forma comum, pois é um sujeito que está além de todas as coisas. Diz o Katha-Upanishad que é “alcançado por aquele a quem Ele escolhe”, mas o aspirante pode se preparar para a realização.
É nesse ponto que o katha-upanishad entra com a prática espiritual, ou seja, a retomada do consciente, através de etapas, distinguindo sete estágios ou níveis que compõe a Cadeia do ser:
1. Os sentidos (indriya)
2. Os objetos dos sentidos (vishaya)
3. A mente inferior (manas)
4. O intelecto superior (buddhi)
5. Entidade coletiva composta pelos Si Mesmo individuados (maha-átman)
6. O Não-manifesto que é o fundamento transcendental da Natureza (prakriti)
7. O Si Mesmo (purusha), que é a identidade do ser humano.
Portanto, segundo o texto apresentado (O YOGA NOS UPANISHADS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS) – FILOSOFIA ORIENTAL para complementar o livro, é a prática de domínio dos sentidos (STHIRAM-INDRYA-DHARANAM), ou seja, o Átman só pode ser atingido pela meditação, concentração ou práticas do Yoga. Apesar disso, o Katha não apresenta uma sistematização de prática. Mas é no Katha que o Yoga começa a aparecer como uma tradição independente e com características próprias.

SHVETÂSHVATARA-UPANISHAD
É nessa Upanishad que temos a primeira sistematização da prática de yoga. Escrita em verso, assemelha-se com o Bhagavad-Gita e significa literalmente “o cavalo mais branco” que segundo comentários posteriores de Shankara, era o título dado a alguém cujos sentidos estão completamente purificados e subjugados, ou seja, um sábio. Esse sábio (autor anônimo) era adepto da inibição sensorial e meditação, através de um ponto de vista metafísico onde toda a Natureza surgem em Deus “panenteísmo”, distinguido-o do panteísmo, onde apenas equipara a Natureza a Deus, sendo essa última rejeitada pelo autor dessa upanishad, para quem Isha (O Senhor) permanece acima da sua criação. É a primeira Upanishad a empregar a palavra Bhakti (amor, devoção).
“O senhor (îsha) sustenta este universo composto do perecível e do imperecível, do manifesto e do não manifesto. O eu individual não é o Senhor, é limitado pela falsa idéias dde ser o que goza (dos objetos dos sentidos). Mas, ao conhecer a Deus, é liberto de todos os grilhões.”
Shvetâshvatara-Upanishad (1.8)
O caminho para esta compreensão é a meditação, através da recitação da sílaba OM, conhecida como pranava. É nessa Upanishad que surge a indicação sobre a postura correta, com as costas retas para possibilitar a livre circulação do prana, com a respiração consciente que leva a concentração mental. Cita inclusive as condições ambientais corretas, recomendando a prática em cavernas silenciosas e lugares puros.
Como primeiros resultados da prática e com a aquietação da mente, surgem a leveza do corpo, a boa saúde, a estabilidade, a beleza do rosto e da voz, o odor agradável do corpo e a diminuição das excreções, ou seja, a transmutação do corpo num “corpo constituído pelo fogo do Yoga”.
O autor é adorador de Shiva: “Que Rudra, fonte e origem de todas as divindades, senhor de todas as coisas, o grande vidente que assistiu ao nascimento do embrião de ouro (no princípio dos tempos), nos conceda uma sabedoria auspiciosa.” Shvetâshvatara-upanishad (4.12)

Segundo o texto COMPLEMENTAR “O YOGA NOS UPANISHADS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS” (APOSTILA DE AULA: FEUERSTEIN G.), podemos citar outras upanishads:
O MAITRAYANYA-UPANISHAD mostra um desenvolvimento mais maduro do yoga com ensinamentos brahmanicos e doutrinas do Sâmkhya e com influência budista. Traz informações sobre o OM. Fala do Yoga com seis etapas (sem os yamas e nyamas e posturas), com um novo elemento TARKA, que não aparece posteriormente no Yoga em oito partes de Patañjali. TARKA significa reflexão, um tipo de êxtase de pensamento discursivo.
O IÇA-UPANISHAD é o menor dos Upanishads e fala de um tipo de Karma-yoga, ensinando a renúncia interior, através de vários versos, onde Mahatma Gandhi, posteriormente, juntou com sua primeira prece cotidiana, assim:
“Tudo que existe no mundo é sujeito a mudança; envolve de divino cada uma de tuas percepções; é pela renúncia que te enriquecerás (espiritualmente); não cobices, portanto, o bem de quem quer que seja (porque nada te pertence).”
O MUNDAKA-UPANISHAD é da mesma época de IÇA e com o mesmo pensamento, considerado fonte do Bhagavad-Gita. Admite o valor do ritualismo, recomenda o conhecimento de Brahman pelo Purusha, ultrapassando o ciclo dos renascimentos.
Depois veio o PRAÇNA E O MANDUKYA-UPANISHAD. O PRAÇNA tem seis questões feitas pelo discípulo ao mestre e fala do significado do Prana como o fogo no homem. A vida é o sacrifício e o domínio do alento é o melhor caminho para adoração.
O MANDUKYA fala dos três componentes do mantra OM (A+U+M) e sua relação com os três estados de consciência:
A – BRAHMAN – CRIAÇÃO – FORMA ASPIRAL – COR VERMELHA – ESTADO DE VIGÍLIA.
U – VISHNU – CONSERVAÇÃO – FORMA COESÃO – COR BRANCA – ESTADO DO SONHO.
M - SHIVA – DISSOLUÇÃO – FORMA DISPERSÃO – COR AZUL ANIL – ESTADO DO SONO PROFUNDO SEM SONHOS.
- TURIYA – O ABSOLUTO – transcende esses três estados e que inspirou o Mandukya-Karika de Gaudapada, um dos mestres do Vedanta.

Considerações Finais

Como escritora dessa resenha, achei que Brihad-Aranyaka Upanishad é sem dúvida, a mais forte em transformação, mostrando que o ser humano se livra passando por cima dos apegos, identificação com ego, com o sofrimento (kleshas, apesar de não serem referenciados diretamente nessa obra) através do ritual que forçava o ser a se voltar para dentro. Percebi que se os leitores não tiverem uma noção de desapego com relação à vida e a dor da morte, achariam o ritual bizarro, cruel e enfadonho. Mas é provável que se o leitor tiver lido o bhagavath Gita, antes dessa Upanishad, entenderá a mesma coisa que Krishna diz para Arjuna, que ele precisa matar os tios, os mestres que lhe ensinaram, e para isso, passar por cima até mesmo do ego da dor. Então o ritual leva ver a morte com libertação do próprio ego.
É transformação para compreender, é aceitação! Acho que representa muito a dificuldade dos humanos de hoje, pois estes temem a mudança, justamente por medo de deixar algo para trás e continuar se identificando com os kleshas.
Como mantras (instrumento para pensar) nos fazem nos voltar para nós mesmos, é natural que o homem passe a procurar as respostas e mudanças dentro de si mesmo. Acho que em Chândogya, o homem percebeu que o ritual deveria ser voltado para dentro de si mesmo ao invés dos estímulos e mudanças externas, mas que também não deixavam de provocar mudanças interiores. Porém, os mantras e a ascese são formas de rituais e de sacrifício tão impactante ou até maior para gerar as mudanças para a libertação. Seria por isso que Arjuna seria mais uma vez citado nas Upanishads ritualísticas?
Acho que chegou num ponto, conforme as Upanishads foram surgindo, que a mudança do ritual, para um sacrifício interno e uma percepção profunda interna, fez com que o ser percebesse a sua composição (koshas) bem como aquilo que nutre essas composições (Anna), já formalizando o trajeto para a busca da realização, em seus diferentes níveis. A resposta que o homem queria sobre quem era e do que era feito estava cada vez mais clara. “Aquele que me dá é o mesmo que Me preservou” mostra bem a triunfante realização do ser, mostrando a unidade com o Ser. Lindo!!! Ao ler essas upanishads e seus versículos, tenho a impressão de não precisar praticar nada para entender...é tão simples dita por eles.
Sempre que o homem, como consciência individualizada ou coletiva, se depara com a questão da morte, é que ele transcende. Alguns sofrem muito, resistem mas muitos aceitam e passam a viver com mais intensidade. Katha-Upanishad fez com que os seres humanos encontrassem uma solução para o seu maior klesha (o medo da morte). Esse medo trouxe a transcendência. Mas até os dias de hoje, o ser humano precisa se deparar, ou seja, confrontar com ela para promover uma evolução significativa na sua existência. (Quantas pessoas despertam para a Realidade suprema quando estão à beira da morte?) Quando o reconhecimento de unidade com o universo surge, aparece também a imortalidade, aparece também a esperança de poder continuar existindo além da matéria. Se pararmos para pensar, estamos morrendo o tempo todo, transformando o tempo todo e é por isso que apego ao corpo, mente, matéria levam ao sofrimento daqueles que não aceitam as mudanças. Quando aliamos a nossa existência à morte, aceitamos as transformações, abrimos nosso coração e a nossa consciência para o novo, é aí que o Átman passa a governar a nossa consciência...eis a bem-aventurança!!! É aí que entram os escritores contemporâneos nos mostrando que o sofrimento ensina muito...

Resenha: Mitologia Hindu_material Sandra Cury


O YOGA E A RELIGIÃO HINDU
Quando examinamos o hinduísmo, Budismo, Jainismo e o Sikhismo percebemos que mesmo o yoga não sendo uma religião no sentido convencional e que não se vincula às crenças e práticas religiosas dessas tradições, não deixa de ser uma espiritualidade, um esoterismo, um misticismo.
O ocidental (judaico-cristão) vê como pecado a adoração de panteão, por ser monoteísta. Mas na verdade videntes e sábios védicos eram profundos conhecedores de símbolos hábeis na linguagem metafórica e desde a época mais antiga, as divindades eram consideradas com três pontos de vistas: material, espiritual e psíquicas. Sempre que pensamos em uma divindade devemos ter em mente os três aspectos, pois constituem uma só realidade. Desde a era védica que os teólogos indianos falam em trinta e três divindades. Um pequeno grupo de divindades são associados ao yoga.
Shiva e a divindade dos yogins e ponto focal do Shaivismo. Ele é a figura de um yogin, cabelos compridos, corpo coberto de cinzas, leva uma guirlanda de crânios – representando a renúncia – com seus três olhos representando o sol, a lua e o fogo, revelando coisas do passado, presente e futuro e o olho que está na testa representando o fogo cósmico. A serpente enrolada representa a kundalini. O rio Ganga que sai da sua cabeça é a purificação perpétua. A pele de tigre o poder da shakti que ele domina, seus quatro braços representam o domínio sobre os quatro pontos cardeais, e o tridente simboliza os três gunas (sattwa, rajas e tamas). O touro Nandin representa a energia sexual e o leão a gula e voracidade dominados por Shiva.
Nos primórdios, Shiva era Rudra (grande médico), divindade ligado a manifestações do ar (vento, tempestade, trovão e raio) e também energia, respiração, etc.
Shiva tem outras denominações: Hara – eliminador, Shankara – aquele que concede alegria, Shambu – sede das delícias, Pashupati – senhor dos animais, Ishana – Soberano e mahadeva – grande deus.
Símbolo importante associado a Shiva é o Linga, traduzida como falo e que significa literalmente sinal. Representa o princípio da criatividade e é o âmago criativo da existência cósmica (prakriti). O mundo é a relação de shiva e Parvati, ou seja, entre consciência e Energia.
Vishnu (o que impregna todas as coisas), foco de adoração dos vaishnavas, é conhecido também como Hari (eliminador), Narayana (Morada dos humanos), Vasudeva (Deus de todas as coisas). Como Shiva, também tem quatro braços que significam a onipresença e onipotência. Seus atributos são representados assim: a concha (criação), disco ( intelecto), lótus (universo), arco e flechas (ego e sentidos exteriores), maça (força vital), cacho de cabelos dourados (âmago da natureza), carruagem (mente como princípio da ação), cor preta ou azul-escura da pele (extensão infinita do espaço).
Afirma-se que Vishnu encarnou 10 vezes:
Matsya (Peixe) – Veio para salvar Manu Satyavrata, progenitor da raça humana.
Kurma (tartaruga) – Recuperou tesouros, restabelecendo a ordem e o equilíbrio universais.
Varaha (Javali) – teve como missão destruir o demônio de “olhos de ouro” que havia inundado a terra inteira.
Nara-Simha (Homem-leão) – com suas garras dilacerou o corpo do rei Hiranyaka-shipu que havia tentado matar o seu filho Prahlada, grande devoto de vishnu.
Vamana (anão) – Veio para vencer o demoníaco Bali e concedeu-lho o império do mundo inferior.
Parashu-Rama (Rama com o machado) – Destruiu vinte e uma vezes a casta guerreira.
Rama – (o escuro ou o agradável) – Está na epopéia Ramayana. Soberano justo e sábio de Ayodhya.
Krishna – (o que puxa) – Deus homem, cujos ensinamentos estão no Bagavath gita e Mahabharata.
Buddha (o desperto) – nasceu para desorientar os demônios e malfeitores.
Kalki (O vil, o Humilde) – é o avatar que ainda não veio. Sua tarefa será de destruir esse mundo e iniciar a nova era.

Outros deuses devem ser citados como por exemplo Brahman, que é o mais abstratos de todos eles e é o criador do mundo. Devemos ter um cuidado especial para não confundir a Realidade transcendente não-dual que é brahman.
Deus Ganesha (Senhor dos exércitos), filho de shiva também é conhecido por outros nomes como Ganapati (tem o mesmo significado) e Vinayaka (comandante). Ganesha está ligado diretamente ao simbolismo da força vital e da energia serpentina.
Destaque para Durga (a que é difícil de atravessar), que representa a energia cósmica de destruição e que destrói e anula o ego. Só é mãe protetora para aqueles que seguem uma vida de transcendência.
Kali é personificação de Durga e faz parte de um grupo das dez Grandes Deusas chamadas grandes sabedorias. Dentre elas Chinnamasta tem importância especial no Yoga, representando um sacrifício primordial da Mãe divina criando as duas correntes ida e pingala.
O aspecto benigno do supremo é Lakshmi e significa Boa Sina ou boa fortuna.
No ponto de vista ocidental Deus não é nem benigno e nem maligno, mas transcende todas essas categorias.



MITOLOGIA CONTIDA NOS VEDAS

Para entendermos os Vedas é necessário entendermos o significado dos Deuses. Deva (Deus) é citado 33 em número oficial e tem 11 considerados celestes, 11 atmosféricos e outro tanto terrestres.
Podem ser divididos em grupos:
§ Adityas – Celestes (7,8 ou mais)
§ Maruts ou Rudras – Atmosféricos (nuvens, vento, trovão, etc), contados além dos 11 oficiais.
§ Vasus – terrestres (8, alguns oficiais e outros não).
O número de seres sobrenaturais nos vedas é muito grande. Categorias:
· Devas – tem poderes e sabedorias sobre-humanos.
· Espíritos – ligados a natureza, homens e espíritos de vários tipos.
Nos Vedas, os Gandharvas são espíritos associados às árvores, nuvens ou lagos e no Bhagavat-Gita eram os músicos do devas.
Os seres negativos eram:
Ø Asuras – oposto dos Devas, igualmente poderosos mas demoníacos.
Ø Rakshasas – vampirescos, negativos, mas não tão forte quanto o anterior.
Ø Pishacas – “comedores de cadáveres” ou de “carne crua”.

Devas e deuses Celestes
Um novo conceito, com idéia de transcendência aparece dizendo que é céu é imaterial, que é também o que se pensa do sobre-humano, algo fácil de relacionar com a idéia de Deus (como luminosidade, brilho, opondo-se as trevas).
Dois termos filosóficos se relacionam com o assunto:
Hierofania – manifestação sagrada – como se o fenômeno servisse de meio de comunicação – não que algum deus seja o fenômeno mas sim relacionando-o a um fenômeno natural.
Cratofania – manifestação de força ou poder, como o local ou espaço onde está se manifestando um deus.

Há vários tipos de deuses celestes e um dos mais antigos é DYAUS, o deva mais importante dos arianos e está associado ao céu. Quer dizer dia, um deva luminoso.
Devemos observar a semelhança das palavras Deus e Zeus de Dyaus (latim, grego e sânscrito respectivamente) e que tem como características a onisciência, às vezes citado como criador do universo.
VARUNA – como que sucessor de Dyaus, também é onisciente e relacionado a todas as coisas que estão no céu, considerado o principal deus moral dos Vedas. RITA é o guardião da lei ou ordem eterna e pode representar a ordem natural das coisas, envolvendo tudo que é correto. Enquanto RITA é uma lei eterna, VARUNA é guardião de RITA, considerado um dos devas superiores, mas sem muitos hinos.
Outro Deva quase igual a Varuna é Mitra e que chegam a ser confundidos. Mitra significa amigo. Mas Varuna é ligado a noite e Mitra ao dia.
Existem outros Adityas: Aryaman, Bhaga, Daksha, Amsha, Martanda.
No céu há outros deuses: Surya (dentro do sol), esposo da Aurora, USHAS, também filha de Dyaus e única divindade feminina que é invocada mais vezes nos Vedas.
As vacas tem uma importância grande nos Vedas e sempre aparecem nos hinos, associada com USHAS.
Há mais três devas celestes que não são muito importantes:
1) SAVITRI – relacionado com a aurora e com o sol. “aspecto do despertar”.
2) PUSHAN – “aquele que faz prosperar” – relacionado com o sol. Conduz os mortos ao lugar certo.
3) VISHNU – ele toma a forma de um anão e pede para o demônio que lhe dê o tanto de terra que ele conseguir percorrer com 3 passos e no primeiro passo alcança a terra toda, no segundo atinge o céu e os astros e no terceiro, o infinito.
DEUSES ATMOSFÉRICOS
A Característica principal desses deuses é o PODER. Na época em que os Vedas foram compostos, INDRA era o mais importante. RUDRA era mais parecido com os demônios.PARJANIA é um deva que faz chover e associado a KRISHNA. PRITHIVI é a terra fertilizada por PARJANIA.PANIS são combatidos por INDRA e significa avarento.
Há cerca de 20 hinos védicos sobre a história de Indra e as vacas.
INDRA tem como características: associação como touro e o bode e Indra é invocado para dar fertilidade aos animais e às pessoas, conhecido também como “Senhor dos Campos” e “mestre dos Arados”.
RUDRAS ou MARUTS (muito numerosos), representam as forças violentas que existem numa tempestade e são extensões de INDRA. RUDRA (deus de segunda categoria), considerado aterrorizante que mata homens, gado e espalha doenças mas que também era curador de doenças e benfeitor da humanidade. A lenda acerca de Rudra significa que há forças que os devas védicos não conseguem destruir e que precisam ser absorvidas e transformadas, ou seja, os acetas e yogues, engolem e transformam essas energias. Isso significa que as coisas negativas podem vir a ser positivas e produtivas para o universo.

Há outros deuses menores da atmosfera como YAYU (vento), associado a PARJANIA, MATABISHVAM, deva obscuro, que trouxe o fogo do céu pra terra, ás vezes identificado Agni e associado com ele e com outro nome: TRITA “o terceiro” falando dos três aspectos do fogo e APAM NAPAT (filho das águas)

DEUSES TERRESTRES
Como hierofanias temos PARVATA (grandes montanhas) e que originou o nome PARAVATI, a consorte de SHIVA.
Como deuses individuais temos: AGNI (deus do fogo) e SOMA (associado a lua e passa a ser celeste). VASUS que são associados aos pontos cardeais.
Até aqui cada Deva é associado a um fenômeno natural, além dos deuses associados as regiões do espaço e ainda há mais um grupo de divindades ou espíritos e que não estão associados a nenhum fenômeno natural.

Resenha: A Essência do Yoga de Georg Feurestein


A ESSENCIA DO YOGA

Estar ligado a um estado de ser ou de consciência, que deve ser o fato comum entre as escolas de yoga reflete no uso da fórmula “Yoga é êxtase” (Yoga-Bhashya de Vyasa)e que resume a orientação essencial da prática.
Só é possível compreender essa noção quando é relacionada a idéia de Purusha que é o sinal distintivo da caminho yogue. A própria palavra “êxtase” significa estar fora do eu ordinário, ao passo que samadhi significa estar dentro do Si mesmo (essência transcendente da personalidade).
As upanishads foram os primeiros a ensinar o ritual interno e da absorção nesse fundamento. O Vedanta diz que o eu individual está separado do seu fundamento transcendente,do Absoluto e esse modo de compreensão difere de escola para escola. Algumas escolas dizem que nós nunca nos separamos do Fundamento e essa descoberta assemelha-se a uma recordação da nossa condição eterna de identidade com o Si Mesmo eternamente feliz.
Já o yoga Clássico de Patanjali não afirma em momento algum que a meta última do esforço yoguico é a união com a realidade transcendente. O metafísico Patanjali estabelece uma separação entre o Si mesmo transcendente e a natureza (prakriti) com todos os seus produtos. Portanto ele define o yoga como a “restrição dos turbilhões da consciência” (citta-vritti-nirodha), e que trata de uma concentração de corpo inteiro, na qual todo o ser da pessoa se aquieta.
Todas as escolas de Hinduísmo concordam em que a Realidade última não é um estado de estupor mas sim de superconsciência. A libertação é o gozo extático contínuo do Si Mesmo (moksha) e o Yoguin se desfaz da escada que utilizou para se realizar.


O PORQUÊ DO NOME YOGA

Yoga tem um sentido técnico: valores, atitudes, preceitos e técnicas espirituais. Técnicas oriundas da Índia e com mais de 5000 anos. É a tecnologia psicoespiritual da Índia. A palavra Yoga também foi aplicada a outras tradições como o Yoga Tibetano. Mas só pode ser usada a palavra Yoga como substituto puro das palavras “místico” e espiritualidade”.
No sentido mais correto, a palavra yoga deve ser aplicada ao sistema de Yoga de Patanjali (Yoga Clássico). Encontra-se como Darshana do Hinduísmo (pontos de vista) juntamente com outras cinco tradições: nyaya, Vaisheshika, Samkhya, Mimansa e o Vedanta.
O termo Yoga foi aplicado no Rig Veda onde a palavra é traduzida como “união, junção”, e pode ter conotações como “conjunção de dois astros, regra gramatical, emprenho, ocupação e equipe”.
No Vedanta o termo Yoga é explicado como união entre o eu individual e o si mesmo transcendental como já foi citado nessa resenha.

GRAUS DE TRANSCENDÊNCIA DO EGO – O PRATICANTE

Yogin (mesma derivação yug) é o praticante de yoga, que pode ser iniciante ou avançado ou até mesmo o adepto perfeito realizado no Si Mesmo. A praticante mulher é Yoginí. O praticante adiantado às vezes é chamado de Yukta. O Yogin perfeito é muitas vezes chamado de Yogendra.
O último estágio da transcendência é o Kaivalya (solidão) e é o grau mais alto de perfeição espiritual.

UMA LUZ NA ESCURIDÃO – O MESTRE

O yoga nunca é algo que a pessoa aprende sozinha. Eliade diz: “Ninguém aprende yoga por si mesmo”. É um processo de discipulado e um sistema iniciático de mestres e discípulos que remonta do período Védico (4500-2500 a.C). O conhecimento era passado de forma falada e memorizada. O mestre tinha que cuidar do bem estar dos seus discípulos e já o discípulo tinha que estudar e servir (seva) à casa do mestre. Um dos deveres do discípulo era levar uma vida casta (brahmacharya). A castidade era essencial para o cultivo do prana.
O relacionamento entre mestre e discípulo era chamado guru-kula.
O Hinduísmo distingue vários tipos de mestres. Dentre eles, os adeptos realizados em Deus têm um lugar sagrado na sociedade Hindu. São eles os únicos considerados capazes para iniciar o caminhante espiritual.
Outra citação importante está no Hatha Yoga Pradipika que afirma que sem compaixão (karuna) de um mestre é muito difícil alcançar a transcendência.
Enfim, o verdadeiro mestre não apresenta sinais de egoidade e não se envolve mais no automatismo e é sempre o mestre realizado em Deus que as escrituras exaltam e está acima de todos os outros.